
Quem consome alimentos orgânicos acreditando que eles são mais nutritivos pode ficar em dúvida na próxima compra. Um estudo publicado neste mês pela revista de saúde Annals of Internal Medicine revelou que não existem diferenças significativas na presença de vitaminas e minerais entre frutas e verduras cultivadas in natura e as produzidas pelos meios convencionais, com o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos.
Pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA) revisaram 17 estudos feitos em humanos e 223 trabalhos científicos sobre os níveis nutritivos e de contaminação dos alimentos orgânicos, feitos entre 1966 e 2011. A pesquisa concluiu que, apesar de estarem menos expostos a pesticidas, os orgânicos não têm valor nutricional maior.
Segundo o agrônomo e professor adjunto da Universidade Federal de Lavras (MG) Eduardo de Barros Vilas Boas, os resultados do estudo podem proceder, já que o objetivo da produção de orgânicos é reduzir o impacto dos agrotóxicos no meio ambiente e não, necessariamente, criar produtos mais nutritivos. "Mas já existem alguns estudos que mostram que uma ou outra variedade de verdura pode ter mais vitamina C ou antioxidante, por exemplo", afirma.
O estudo da Stanford, porém, não é suficiente para abalar a fé que a dona de casa Roseli Al Farah deposita nos orgânicos. Consumidora voraz desse tipo de produto, ela diz que os resultados da pesquisa são insuficientes para convencê-la a optar pelos alimentos cultivados por métodos industriais. "Jamais vou deixar de comprar meus produtos orgânicos", diz.
Preço justificável
Frutas, verduras, carnes e legumes orgânicos costumam ter um preço acima da média. Em uma determinada rede de supermercados de Curitiba, por exemplo, uma unidade de escarola cultivada por métodos industriais custa R$ 1,98 enquanto a mesma verdura no setor de orgânicos é encontrada por R$ 3,89 quase o dobro. A diferença pode ser gritante para alguns, mas para consumidores de alimentos menos expostos a agrotóxicos, pagar a mais é conveniente. "Se for ver, eles não são tão mais caros assim e eu acho que vale a pena pagar por essa diferença. Não adianta levar um tomate ou um morango para me alimentar bem se eles estão cheios de agrotóxicos", argumenta.
Para o engenheiro químico e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Lúcio Cardozo Filho, o preço mais alto dos orgânicos se justifica pelo fato de que a cultura desses produtos exige mais cuidados e mão de obra, já que não são produzidos em larga escala e sim por pequenos e médios agricultores familiares. "O trabalho manual é maior. Esse tipo de plantação precisa de controle e observância maior e por isso o trabalho é mais difícil, o que reflete no preço", explica.



