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De acordo com estimativa da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba, cerca de 40% das consultas com médicos especialistas agendadas no sistema municipal de Saúde de Curitiba deixam de ser realizadas por falta de comparecimento dos pacientes. O fato de as pessoas "esquecerem" da consulta marcada é o principal motivo de ausências.

Segundo René Santos Neto, assistente técnico da rede de atenção à saúde da capital, e responsável pela as faltas, além de gerarem um impacto financeiro imediato para o sistema, também têm reflexos na própria condição de saúde dos pacientes. "Ele não dá bola ou não dá atenção, depois volta para fila numa situação pior e tem que esperar de novo, sendo que há um limite para resolver determinados tipos de doenças", esclarece. Índice semelhante também é registrado em casos de exames agendados, mas que não são realizados. De acordo com Santos, a ausência "é tão grande quanto" o índice de pacientes faltosos, apesar de não haver dados precisos sobre o caso. Já na atenção primária – primeiro nível de atendimento feito ao paciente –, a taxa de ausência não passa dos 15%.Demora também ajuda

Ainda que a Prefeitura aponte o esquecimento como a principal causa que impacta nos índices de ausência em procedimentos, o membro da comissão de defesa profissional da Associação Médica do Paraná (AMP), Luiz Ernesto Pujol, afirma que a longa fila que os pacientes têm de enfrentar para conseguir chegar até um especialista também exerce uma grande influência nas cadeiras vazias das clínicas médicas.

Segundo ele, a exposição a dificuldades que vão desde uma orientação inicial até o diagnóstico final do paciente é o caso mais recorrente nos sistema de saúde que motiva a procura por atendimentos particulares.

"Há uma cadeia de falhas nesse sistema. Primeiro vem a dificuldade em conseguir uma consulta com especialista. Quando consegue, vai pedir os exames e vem o segundo sofrimento. A marcação é extremamente demorada, até porque são poucos os serviços que atendem e porque a remuneração que o SUS repassa é baixa. Tudo isso faz com que ele [paciente] desista dessa consulta ou desse exame e procure outro meio", explica.

A idosa Jorgina Winterscheid é um exemplo de que a demora em conseguir atendimento influencia nas ausências registradas pelo sistema público de saúde. Há um ano, por conta de fortes dores, ela descobriu que sofria de uma doença degenerativa no joelho. Para que o médico tivesse a dimensão exata do estado do problema, foi solicitado um exame de ressonância magnética. Seis meses depois de entrar na fila para realizar o exame, Jorgina desistiu da espera e procurou uma clínica particular, já que as dores estavam atrapalhando sua locomoção. "Mas agora eu preciso do SUS de qualquer jeito para fazer a cirurgia", disse a idosa que, já com os exames em mãos, não sabe quanto tempo terá que aguardar pela cirurgia.

Muitos exames são desnecessários

Pujol esclarece ainda que o próprio exercício da medicina pode ser responsabilizado pelo impacto das ausências em procedimentos médicos. "Alguns médicos pedem tantos exames que o doente não faz porque entende que a solicitação do exame é uma maneira do médico não se envolver com o paciente. É uma solicitação exagerada e sem fundamentos", declara.

Segundo o médico, 90% dos casos atendidos em consultórios podem ser resolvidos sem exames de maiores complexidades, o que se nota pela própria atitude do paciente após sair da consulta. "Em boa parte dos casos, se o paciente faz o exame ou não vai buscar ou não comparece na consulta com especialista, é porque o procedimento era desnecessário, e aí temos o nosso maior problema, que é o médico que não dá atenção devida ao doente", conclui.

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