
O Palacete do Batel está em obras. Um projeto, encomendado pelos proprietários do imóvel, com o aval do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (CEPHA), pretende restaurar todo o interior, a fachada e os jardins. Considerado patrimônio artístico do Paraná, o casarão foi tombado em 1975 e há mais de dez anos já não é habitado, de acordo com o arquiteto Cláudio Forte Maiolino, diretor da empresa de restauro Albatroz, responsável pelas obras. "Como o palacete ficou muito tempo sem uso e fechado, a degradação foi maior, pois sem moradores a manutenção é mais esparsa. Quanto menos inserido na vida das pessoas, maior a chance de um imóvel sofrer deterioração", explica. Além da falta de manutenção, a ação do tempo também contribuiu para os estragos, já que o palacete foi construído entre 1912 e 1914. "O imóvel tem quase 100 anos, logo, a degradação dos materiais é inevitável", comenta Maiolino.As obras, iniciadas em novembro passado, têm previsão para durar 12 meses. Numa primeira etapa, o trabalho se concentrou em limpar toda a área, além de proteger peças e estruturas internas e externas. Agora, está sendo feito o restauro do teto e do forro e, posteriormente, a empresa começará o trabalho no interior do imóvel, que envolve desde a troca de tubulações, calhas, fiação e sistema de iluminação até a restauração de portas, janelas, esquadrias, além da instalação de banheiros e de um sistema de informática. "É importante ressaltar que o trabalho é de restauração, não de reforma. Como o imóvel é tombado, ele não pode perder suas características originais, pois cada peça e estrutura é parte da história do lugar e não pode ser trocada", esclarece o arquiteto. Depois do restauro, o projeto prevê a construção de uma torre de seis pavimentos, com fins comerciais, nos fundos do palacete, com vista para a Avenida Visconde de Guarapuava. O empreendimento é da incorporadora Thá, uma das proprietárias do imóvel. A empresa não concedeu entrevista, mas a construção foi confirmada pela coordenadora da Coordenadoria do Patrimônio Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura, Rosina Parchen. O CEPHA, ligado ao órgão, aprovou a construção sob a condição de que a obra não afetasse nem modificasse a estrutura da época do tombamento. "Obviamente que o ideal seria que não houvesse essa torre, mas as coisas não funcionam sempre assim", admite. "O custo de manutenção do palacete é alto e a mão de obra é extremamente especializada, portanto o proprietário precisa ter uma fonte de renda para arcar com tudo isso. Nesse caso, a renda obtida com o aluguel da torre pode contribuir para a manutenção, que vinha sendo protelada pelos donos há no mínimo oito anos".Os comerciantes da região não acreditam que o restauro venha a trazer benefícios, mas apostam que as obras vão deixar o entorno com aparência mais agradável. "O palacete estava bem acabadinho", brinca o atendente de farmácia Paulo Siqueira. Segundo ele, somente a restauração não vai melhorar os problemas do bairro, que sofre com a ação de vândalos a qualquer hora do dia, mas o palacete, que fica de frente para o estabelecimento onde ele trabalha, oferecerá uma visão mais bonita quando ficar pronto. "Hoje nem dá para ver alguma coisa, só tem mato na frente". Símbolos de pujança econômicaO palacete do Batel, juntamente com o vizinho Castelo do Batel e outras dezenas de casarões do bairro, são símbolos da época dos ciclos da erva-mate e da madeira. "Os terrenos onde foram erguidos os casarões, no fim do século 19 e início do século 20, eram antigas fazendas de propriedade de grandes usineiros, ervateiros e madeireiros que fizeram fortuna com essa bonança econômica", conta o historiador Marcelo Sutil, da Casa da Memória. "Com a morte de um fazendeiro, os filhos acabavam partilhando os lotes, que mesmo divididos eram bem grandes, e construindo casas no lugar".
Estilo
O estilo arquitetônico que predomina na construção do Palacete do Batel, construído entre 1912 e 1914, e de outros casarões do bairro é o chamado eclético, que reúne uma variedade de estilos, do art nuveau ao barroco, e que teve seu auge de 1870 a 1920. O nascimento do estilo tem uma causa: até meados de 1850, os elementos da construção, do friso da fachada às esquadrias e maçanetas eram feitos artesanalmente. Com a industrialização, esses elementos passaram a ser produzidos em larga escala nas fábricas, e era possível escolher entre uma enorme variedade deles. "Isso fez com que muita gente optasse por estilos antagônicos, que não combinavam entre si, e isso resultou no estilo eclético", ensina o arquiteto Cláudio Maiolino, professor de Arquitetura e Urbanismo na PUC-PR.




