
Em plenas férias de julho, durante o recesso escolar, duas alunas de Porto Alegre estudavam dia e noite em Harvard, nos Estados Unidos. Era um curso de apenas uma semana, focado no desenvolvimento pessoal e em aperfeiçoar características de liderança, mas serviu para muito mais. Lá, ambas aprimoraram o inglês, conheceram gente do mundo inteiro e descobriram como são as instalações de uma das universidades mais renomadas do mundo. O aprendizado e a experiência vieram junto com o desejo de um dia voltar lá mas para se formar.
Oportunidades assim não estão ao alcance de todos, mas têm atraído muitos brasileiros que, antes mesmo de completar a formação básica, buscam viver experiências capazes de levá-los a estudar em conceituadas faculdades mundo afora. É o caso das amigas Aline Scheidegger e Bruna Bresolin, de 15 anos, estudantes do Colégio Farroupilha, que retornaram às aulas neste mês com uma passagem por Harvard na bagagem. "Eu amei, foi uma experiência única, que mudou meu ponto de vista a respeito de muitas coisas. Antes eu pensava que podia deixar tudo para depois, mas em Harvard me mostraram que, se quero estudar lá, tenho que começar a me preparar agora", reflete Bruna, ainda encantada com o que viu e aprendeu nos Estados Unidos.
Além de atrair os estudantes pela estrutura educacional, a ideia das universidades de fora é mostrar que as portas estão abertas. Mas a um preço alto: cada uma das meninas desembolsou US$ 3.295 por uma semana. Mostrando a infraestrutura e permitindo a diversos alunos vislumbrar, ainda que por um curto período, aspectos da vida acadêmica, as instituições buscam despertar nos jovens a vontade de superar as próprias expectativas. E fazê-los acreditar que, sim, com muito esforço e dedicação, é possível estudar no Exterior: até sem pagar nada.
Seleção
A estudante Nathália Cecon está embarcando para a Universidade de St. Andrews, nos Estados Unidos, onde começa um curso de inglês intensivo voltado à preparação para a vida acadêmica fora do Brasil. Ela foi aprovada em um longo processo, que envolveu o envio do currículo a diversas instituições, conversas com recrutadores, apresentação de trabalhos escritos e algumas provas. Agora, ela irá dedicar-se ao estudo da língua estrangeira, enquanto espera até janeiro, quando começam as aulas de jornalismo na Universidade de Lindenwood. Mais do que boas notas, porém, Nathália teve de se destacar. "Atividades extracurriculares, em especial o voluntariado, são levadas em conta na seleção", afirma.
Das origens familiares surgiu a carreira
Adriana Czelusniak
Depois de ter crescido em um lar em que havia vestígios de tradições italianas, herança do bisavô que veio ainda jovem da Itália, Camila Franco de Souza, 18 anos, não pensou duas vezes na hora de dar um tempo no ensino médio. Estudou até a metade do ano no terceirão e fez as malas para a cidadezinha italiana de Ravena. Tinha acabado de completar 17 anos e foi escolhida para passar o ano todo na casa de uma típica família italiana. "Eles haviam enviado um dos três filhos para um intercâmbio na Noruega e, entre outros estudantes candidatos, me escolheram. Além dos três filhos, os avós também moravam na casa. Aprendi bastante com a família, a cozinhar, principalmente, já que a avó cozinhava muito bem, fazia massas em casa e era uma delícia", conta.
Apesar de não ter estudado em uma universidade por lá, mas no Liceo Scientifico A. Oriani, a experiência foi definitiva para a escolha de carreira de Camila. Ao deixar o Brasil, ela não sabia para qual curso tentaria vestibular no ano seguinte, mas o contato com áreas diferentes a ajudou na escolha. Por ter morado em uma cidade que havia sido capital do império romano, mergulhou em história. O colégio em que estudou é tido como de nível elevado, o que a ajudou a melhorar em algumas áreas. "Eles focam muito em matemática e física, disciplinas que eu não gostava. Mas como os alunos tinham um nível alto, tive de estudar e contei com a ajuda dos professores, que me davam uma atenção especial", conta. O idioma também evoluiu do básico à fluência já nos primeiros meses.
De volta pra casa, a decisão por uma carreira foi mais acertada. "Foi bom para meu amadurecimento, para pensar no que eu gostava e no que não gostava. Eu já gostava muito de cozinhar e como a família de lá era muito ligada à culinária aprendi bastante coisa. Por isso escolhi Nutrição e quero seguir na área de Gastronomia", diz a estudante do primeiro ano da Federal do Paraná (UFPR). Mas Camila já tem planos de viajar novamente. Agora sua meta é conseguir uma vaga pelo Ciência Sem Fronteiras, e chegar à França.



