
Um homem que pensava o Paraná e o Brasil sob a ótica de Estado. Intelectual e defensor dos interesses dos paranaenses a longo prazo. Humano e sensível, que doou seu tempo ao desenvolvimento das pessoas. Assim foi Belmiro Valverde Jobim Castor, professor, economista e ex-secretário do Planejamento e da Educação do Paraná, que faleceu no último sábado, aos 71 anos, vítima de um mal súbito do coração.
O falecimento surpreendeu a todos ao seu redor, entre familiares e os muitos amigos que o acompanhavam. Retirou-se para dormir no sábado, mas, pouco depois, sua esposa, Thereza Elizabeth Bettega Castor, percebeu que ele passava mal. Chamou o socorro, mas não houve tempo para reverter seu quadro. Ele já havia tido problemas do coração anteriormente. Seu corpo começou a ser velado às 11 horas desse domingo, na capela 4 do cemitério Água Verde, em Curitiba. O sepultamento será hoje, às 16 horas. Belmiro deixou esposa e duas filhas.
Últimos planos
Segundo amigos, estava planejando férias com viagem para a Europa, para assistir à cerimônia de canonização do papa João Paulo 2.º, e também para visitar uma filha, que mora na Alemanha. Enquanto planejava a viagem, dedicava-se a atividades comunitárias, em especial a Escola João Paulo 2.º, que atende crianças carentes em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba.
O nome da escola presta homenagem ao papa, a quem cultivava especial devoção. Ao lado de sua esposa, Belmiro queria que crianças pobres tivessem o mesmo ensino de qualidade pré-escola, fundamental e contraturno "como aquele que têm nossos filhos e netos", como dizia, segundo Aroldo Murá Haygert, presidente do Instituto Ciência e Fé de Curitiba e autor da coleção Vozes do Paraná.
Esse foi o mote para a construção da escola, que conta com projeto de arquitetura doado por Manoel Coelho e que hoje é mantida pela comunidade empresarial e amigos. Seu coração carregava as crianças atendidas na escola como seus netos. Maria Eliane de Aguiar, pedagoga da escola, conta que só conseguiu concluir a faculdade porque teve a ajuda de Belmiro. "Ele considerava os 282 alunos como se fossem seus netos e assim os chamava informalmente. Vamos sentir falta dele por nos mostrar que é possível ter uma educação de qualidade", lamentou Maria.
Trajetória
Nascido em Juiz de Fora e curitibano por adoção, Belmiro era bacharel em Direito e PhD em Administração Pública pela University of Southern California. Também era colunista da Gazeta do Povo desde 1995. Foi autor do livro "O Brasil não é para Amadores: Estado, Governo e Burocracia na Terra do Jeitinho", que teve tradução para o inglês. Como professor, dava aulas na Universidade Positivo e na FAE Business School, no doutorado em Administração da PUCPR. Foi professor titular da UFPR de 1971 a 2004.
Professor trazia opinião qualificada em programa de TV
Diego Antonelli
Por mais de dez anos, Belmiro Valverde Jobim Castor fez parte da equipe do programa Cobras & Lagartos, da emissora de televisão da UFPR. Ao lado do jornalista Ney Hamilton Michaud, do médico Mario Negrão e do cineasta Hugo Mengarelli, Belmiro "falava de tudo e de todos". "Era um papo de boteco sem o boteco. Não havia censura alguma", resume Ney Hamilton. Em diversas pesquisas, o programa foi apontado como um dos mais vistos da tevê universitária. Desde o começo, Cobras & Lagartos manteve sempre as mesmas pessoas na apresentação. "A partida do Belmiro é muito sentida. Ele é uma das raras pessoas que passam e marcam a nossa vida", assinala Hamilton. Cobras & Lagartos abordava os mais distintos temas, revelados no início do programa, para que os participantes expusessem opiniões qualificadas a palpites sobre os mais variados assuntos.



