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Juíza de Barracão, Branca Bernardi, mostra método Apac em reunião com juízes e governo do Paraná. Já são 27 municípios interessados no método. | Divulgação/TJPR
Juíza de Barracão, Branca Bernardi, mostra método Apac em reunião com juízes e governo do Paraná. Já são 27 municípios interessados no método.| Foto: Divulgação/TJPR

Um projeto que conseguiu taxa zero de reincidência criminal com presos será alavancado como uma nova aposta para responder ao quadro caótico do sistema penal paranaense. A ação em questão é a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), que começou aqui no Paraná começou em Barracão, no Sudoeste do estado, há quase quatro anos. O método é baseado em 12 premissas que implicam em participação efetiva dos moradores, solidariedade entre os presos, trabalho, assistência jurídica, participação da família, valorização humana e religião.

Em 2014, quando ainda caminhava, a Apac de Barracão tinha 23 presos em regime fechado recuperando-se com o método. Hoje, cem deixaram a unidade para a semiliberdade e há 41 dentro do estabelecimento. Todos ex-detentos da Penitenciária Estadual de Francisco Beltrão.

Baixo custo e participação popular são diferenças da Apac

Para funcionar plenamente, a Apac precisa do envolvimento de toda a sociedade. Essa é uma das principais diferenças que fazem o método funcionar, de acordo com Branca. Para começar, se a comunidade local do município não aprovar por audiência pública, a Apac não sairá do papel.

Mas não é simples criar uma Apac. Além da participação popular, é preciso também conseguir filiação na Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados, aprovar nas câmaras municipais e na Assembleia Legislativa do Paraná uma lei que declare a Apac como uma entidade de utilidade pública. Só assim, a legislação estadual permitirá que o governo do estado faça um convênio, que libere recursos para investir no método. O imóvel também deve ser cedido pela comunidade local.

Outro ponto que afasta o método Apac do tradicional é o custo por preso. Atualmente, no Paraná, cada preso custa R$ 3.500 por mês para o estado. O convênio para manter a Apac custa um salário mínimo regional (R$ 1.148) por detendo. “O governo tem percebido que o custo da execução da pena pode ser baixo e eficiente”, explicou a magistrada.

Segundo a coordenadora estadual sobre Apac do Tribunal de Justiça do Paraná e juíza de Barracão, Branca Bernardi, até agora não houve reincidência na cidade.

No Brasil, em unidades penitenciárias comuns, oito em cada dez detentos voltam a cometer crimes.

Já são 27 cidades interessadas no método no estado, lideradas pelos magistrados locais. Além de Barracão, a Apac de Pato Branco tem o projeto consolidado com 17 detentos. É um trabalho de formiga, mas a expectativa da juíza, pioneira do método no Paraná, é que mais duas (em Alto Paraná e Jacarezinho, no Norte do estado) sejam inauguradas neste ano e outras dez em 2017.

“Hoje temos cem pessoas na semiliberdade e nenhuma reincidência. A média da Apac nacional é de 91%”, explica Branca. Diferentemente do sistema penitenciário comum, não é permitido superlotar a unidade e até 40 detentos permanecem por período de tratamento penal.

Em Barracão, a indústria local, de produção de calçados e vestuário, participa efetivamente, assim como a comunidade, concedendo aos presos uma oportunidade de aprender uma nova profissão dentro das Apacs. Os funcionários das unidades são moradores locais e elas necessitam do trabalho voluntário que acontece de forma permanente com ajuda da população. Os presos são parte da comunidade, pois devem ter familiares com residência na cidade.

“Não é um substituto para todo sistema penal, mas é uma proposta mais humana e viável que as penitenciárias deveriam fazer e não conseguem devido à superlotação carcerária”, explicou o juiz da 1.ª Vara de Execução Penal de Curitiba, Eduardo Lino Fagundes Bueno.

Ele e a juíza Branca Bernardi, de Barracão, se reuniram com outros sete magistrados e representantes do governo, entre eles o diretor do Departamento de Execução Penal (Depen), delegado Luiz Alberto Cartaxo, na segunda-feira (18), no Palácio Iguaçu.

“É um trabalho que se mostrou muito eficiente, funcionando quase como com autogestão. Tem se mostrado uma alternativa ao sistema tradicional”, afirmou Cartaxo.

RS e SC também já têm Apacs

A Apac surgiu em 1972, em São José dos Campos, no interior paulista. Ela opera em parceria com o Poder Judiciário e Executivo no cumprimento de penas e na administração de sanções privativas de liberdade, nos regimes fechado, semiaberto e aberto.

Depois do interior paulista, o método se espalhou por 33 cidades mineiras. Agora, segue pelo Paraná e já há no Rio Grande do Sul, em cidades como Canoas, e em Santa Catarina, que começou na capital.

De acordo com ele, o método Apac efetiva a gestão compartilhada entre estado, Justiça e população. “O encarceramento tradicional já foi o melhor método. Hoje só nos preocupa”, disse o diretor do Depen. Segundo o site do Departamento, o sistema penitenciário do Paraná tem cerca de 19,6 mil presos em presídios e quase 10 mil em carceragens de delegacias.

Toda a contabilidade da Apac também está sujeita ao crivo do Tribunal de Contas do Paraná.

Foco no futuro

Segundo a magistrada, o método se concentra no futuro do detendo e não no passado, como o tratamento penal comum.

“Na Apac, tentamos fazer com que ninguém fique focado no estigma de ser preso. Por isso, falamos que ali entra o homem e o delito fica lá fora. Me dá tranquilidade para assinar o alvará de soltura, pois tenho a certeza que vou soltar alguém recuperado”, afirmou Branca.

Faccionados não participam do método

A Apac tem como regra não tratar presos que tem longo histórico com facções criminosas por acreditar que é preciso efetivamente querer ser ressocializado. O método tem entendido que os faccionados ainda não são a maioria no sistema e é preciso concentrar esforços de reinserção social neles.

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