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Paraná tem o maior número de usuários de tabaco do Brasil

Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE mostra que consumidores diários de cigarro são 16,4% da população paranaense. Metade dos fumantes diz que tentou parar no ano anterior

Na reunião mensal do grupo de tabagismo da Unidade de Saúde Solitude, Maria Roseli (à direita) demonstra pressa para usar o adesivo e evitar novos problemas cardíacos. | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Na reunião mensal do grupo de tabagismo da Unidade de Saúde Solitude, Maria Roseli (à direita) demonstra pressa para usar o adesivo e evitar novos problemas cardíacos. (Foto: )

“Não dá para colocar o adesivo já amanhã de manhã?” Foi com essa ansiedade que Maria Roseli Lima da Silva, 53 anos, chegou quinta-feira (27) à reunião semanal do grupo de tabagismo da Unidade de Saúde Solitude, em Curitiba. Depois de passar por um cateterismo mal sucedido e uma angioplastia no começo deste mês, ela quer mudar de vida e deixar de fumar. Por enquanto, Maria Roseli engrossa a estatística do número de fumantes do Paraná. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, a proporção de fumantes diários de tabaco no estado chega a 16,4% da população, o maior índice entre todos os estados brasileiros. A média nacional é de 12,7% e, na Região Sul, 14,4%.

Conheça um pouco mais da saúde dos brasileiros.

Saiba mais detalhes sobre os hábitos alimentares dos paranaenses.

Essa é a primeira pesquisa que aponta o Paraná no topo do ranking do tabagismo. A PNS selecionou 81,7 mil domicílios no Brasil e apontou os hábitos alimentares e de saúde da população acima de 18 anos, em questionários aplicados em 2013. Na Pesquisa Especial de Tabagismo de 2008, a partir dos dados de amostra de domicílios do IBGE, o Paraná ocupava a sexta posição entre os estados, mas foi usada uma metodologia diferente que não permite comparações.

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Unidades de saúde em todo o Paraná oferecem tratamento para pessoas que querem deixar de fumar. As despesas no Sistema Único de Saúde relacionadas com o tabagismo são de R$ 21 bilhões, valor 3,5 vezes maior do que o arrecadado em impostos cobrados da indústria do tabaco.

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O IBGE considera tabaco os produtos que usam nicotina, que podem ser cigarro, charuto, cigarro de palha, rapé (que é aspirado) e fumo-de-rolo (que é mascado). Entre os fumantes do Paraná, aproximadamente metade (51,5%) disse que tentou parar de fumar nos 12 meses anteriores à pesquisa. Mas apenas uma pequena parcela buscou tratamento com profissional de saúde: 9,4%

Idosos e jovens

São os mais afetados com o fumo passivo dentro de casa. Dez por cento da população sofre com isso. Entre 18 e 24 anos, o índice sobe para 11,9%. Entre as pessoas com mais de 60 anos, 12,4% enfrentam o problema. Na média nacional, o grupo mais afetado é o de 18 a 24 anos: 16,2% .

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Segundo a prefeitura de Curitiba, as 109 unidades de saúde da cidade têm equipes preparadas para dar orientações e encaminhar os interessados para grupos de tratamento próximos. O tratamento consiste na avaliação médica e psicológica e em encontros semanais com uma equipe multidisciplinar para ajudar e motivar as pessoas a largarem do vício. Dependendo do caso, são receitados adesivos de nicotina em uma dosagem menor do que a pessoa costuma consumir diariamente.

Metade tentou parar

Entre os fumantes do Paraná, aproximadamente metade (51,5%) disse que tentou parar de fumar nos 12 meses anteriores à pesquisa. Mas apenas uma pequena parcela buscou tratamento com profissional de saúde: 9,4%.

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Normalmente, as equipes de acolhimento orientam as pessoas a ficarem pelo menos um dia sem fumar antes de iniciar o tratamento. Por isso, Maria Roseli não conseguiu realizar seu desejo. E, além disso, ela precisava de orientação para saber que o adesivo, por si só, não livra a pessoa da dependência. Não foi suficiente, por exemplo, para fazer Maria do Rocio Machado Domingues, 58, abandonar o cigarro. Ela fuma desde os 15 e está com enfisema pulmonar. No encontro semanal foi sincera: “Sei que faz mal, mas também penso que já que é para morrer, vou morrer fumando. Não sei se é psicológico, mas não consigo parar. Usei remédio, adesivo, fiquei três dias sem, mas voltei.”

Direção perigosa

Um quarto da população diz que dirige logo após beber. O costume é mais forte na faixa etária de 25 a 39 anos: um terço confirma a direção perigosa. As pessoas mais instruídas são as que menos dirigem após consumir álcool.

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“O que a gente vê é que o cigarro serve de apoio, é uma companhia para a pessoa, por isso fica muito difícil largar”, relata a enfermeira Maria José Ayroza, coordenadora do programa de tabagismo no Solitude. “Se a pessoa não tem fatores protetores mais fortes, apoio familiar ou de outra forma, não há motivação”, completa a psicóloga Gislaine Maria Thomaz, que faz também tratamentos individuais com quem quer largar do cigarro.

Os dados da PNS mostram que é grande a difusão dos malefícios da nicotina: 88% dos fumantes no Paraná observaram as advertências nos maços de cigarro. Mas apenas 55% disse que pretende parar por causa disso.

“Melhor hora de parar é agora”

O professor e palestrante João Cândido Pereira de Castro Neto, 60 anos, fumou entre os 15 e 31. Catorze anos após parar, foi diagnosticado com câncer na laringe. Segundo o diagnóstico médico, a lesão ocorreu pelo uso excessivo da voz, mas o câncer se desenvolveu por causa do histórico de tabagismo. “Foi um choque imenso. Não só pela doença, mas por afetar o meu instrumento de trabalho, que era minha voz. Não sabia o que ia fazer, entrei em depressão.”

Cândido passou por 18 cirurgias, e por fim retirou a laringe. Hoje usa um aparelho que lhe permite conversar normalmente, mas com a voz robótica. “As pessoas se surpreendem, ficam um pouco chocadas. Mas bem-humorado e otimista, e quero mostrar que as pessoas podem ter uma vida profissional e social normal.”

Campanha

O rosto do professor e sua voz metálica protagonizam uma campanha do governo do Paraná para apresentar, nas redes sociais, os malefícios do cigarro e marcar o Dia Nacional de Combate ao Fumo. “O câncer de laringe afeta diretamente a imagem da pessoa, que se retrai e passa a viver a vida como uma sala de espera da morte.”

Apesar da campanha, Cândido diz que não atua ativamente contra o cigarro. “Acho que é uma interferência indevida. Se eu puder, quero ajudar as pessoas a refletir”, diz. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, 19,3% da população paranaense é ex-fumante. A proporção é mais alta na faixa etária do professor: 32,1%. Sobre desenvolver câncer mesmo anos após parar de fumar, Cândido é categórico: “A melhor hora de parar de fumar é agora.”

VÍDEO - A saúde dos brasileiros

Hábitos

A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE questionou os brasileiros sobre seus hábitos alimentares, doenças e atividades esportivas.

Alimentação

Refrigerantes

Vinte e dois por cento dos brasileiros tomam refrigerante ou suco regularmente. No Paraná o índice é maior (25,8%), e os homens são os que mais consomem: 28,4%.

Sal

O consumo de sal é muito alto para 14,2% dos brasileiros e 16% dos paranaenses.

Carne

Os homens paranaenses estão entre os que mais consomem carne com gordura: 56,9%, o quinto maior índice do Brasil. A média nacional é 37,2% entre a população geral e 47,2% entre os homens.

Verduras e frutas

Apesar das escapadinhas com alimentos não saudáveis, boa parte dos paranaenses (38,1%) dizem que consomem hortaliças e frutas regularmente, índice próximo à média nacional (37,3%).

A vida é um doce

As curitibanas são as mais “gulosas” do Brasil. Um terço das moradoras diz que consome doces regularmente. A média nacional é de 22,4% entre as mulheres. No Paraná, 24% comem doces regularmente. É o quarto maior índice do Brasil, atrás de Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul. O consumo é maior na faixa etária de 18 a 24 anos (31,7% comem regularmente) e menor entre os 40 e 59 anos (21%). Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, a gula tem relação com o nível de instrução. Entre as pessoas com Ensino Superior no Paraná, a proporção de pessoas que come doces regularmente sobe para 31,9%. E, entre os sem sem instrução ou com fundamental incompleto, o índice cai para 21,7%. Essa característica também é observada no restante do país, principalmente no Sul.

Saúde

Dor na coluna

Os paranaenses são os que mais relatam problemas crônicos de coluna no Brasil. O índice é de 26%, contra 18,5% na média nacional.

Coração

Entre as pessoas com doenças do coração no Paraná, 21,2% já fizeram alguma cirurgia, semelhante à média nacional. Mas na Região Sul a proporção é maior: 27,1%.

Asma

No Paraná, o diagnóstico de que a pessoa tem asma é feito bem mais tarde do que no restante do Brasil. No estado, a idade média da pessoa quando soube que tinha a doença é aos 22,6 anos. No Brasil, a idade média é 17,5.

Trabalho suado

Entre as mulheres, 19% dedicam 150 minutos semanais a atividades de faxina pesada em casa. Entre os homens, 26,3% fazem 150 minutos ou mais de atividade vigorosa no trabalho.

Depressão

Muitos paranaenses diagnosticados com depressão não gostam de falar sobre o assunto nos consultórios. Apenas 9,1% dos doentes fazem psicoterapia. No Brasil, entre os diagnosticados, 16,4% frequentam tratamento do tipo.

Lazer

Apenas 21,4% dos paranaenses têm tempo de lazer recomendado. Quem mais se preocupa com isso são as pessoas de 18 a 24 anos: um terço delas faz exercícios regularmente.

Percepção

Mesmo com alguns problemas, grande parte dos paranaenses tem a percepção que sua saúde é boa ou muito boa: 69,7% da população.

VÍDEO - Hábitos alimentares

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