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Confira os números de atendimentos realizados pelo Corpo de Bombeiros em Curitiba e RMC |
Confira os números de atendimentos realizados pelo Corpo de Bombeiros em Curitiba e RMC| Foto:

Prefeitura reconhece que sistema está no limite

O superintendente de Obras e Serviços da Secretaria de Meio Ambiente de Curitiba, Sérgio Galante Tocchio, afirma que, se os lagos localizados em parques de Curitiba não existissem, as inundações seriam maiores e mais frequentes. "Quando vemos a imagem do Barigui e do São Lourenço inundados, não é para se preocupar. Eles estão cumprindo a função deles, que é drenar a água da chuva", diz.

Mas, segundo o superintendente, o número de lagos não acompanha o ritmo de impermeabilização do solo. Por isso, a prefeitura planeja investir na recuperação de antigos lagos e na criação de novos. No momento, os que mais precisam de adequações são o Barigui e o São Lourenço, justamente os que inundaram. "Os projetos estão prontos, estamos na fase de captação de recursos. No Barigui, por exemplo, vamos criar mais lagos de contenção ao longo da extensão do rio", revela. Segundo a prefeitura, todos os lagos são desassoreados a cada cinco anos. E cada processo custa, em média, R$ 2 milhões, dependendo do tamanho do lago.

O prefeito Luciano Ducci informou que devem ser feitos investimentos em dragagem e despoluição dos rios de Curitiba para evitar novas enchentes. De acordo com ele, a prefeitura aguarda a liberação de recursos da Agência Francesa de De­­senvolvimento e do PAC 2 para o projeto Viva Barigui, que revitalizará o rio, com a retirada de ocupações irregulares e a construção de piscinões ao longo do rio. Além disso, também devem ser realizadas dragagens e a despoluição de outros rios da cidade. De acordo com Ducci, porém, a chuva de segunda-feira foi muito forte. "Ontem choveu o equivalente a 15 dias. Não tem sistema que dê conta", disse.

O diretor-presidente do Instituto das Águas do Paraná, Márcio Nunes, afirmou que é necessário um volume muito grande de dinheiro para resolver o problema das chuvas. "Mais de R$ 1 bilhão está sendo investido em obras de drenagem em Curitiba e RMC para solucionar os problemas das enchentes, mas precisamos de mais recursos", diz. (GA)

Colaborou Ana Carolina Olinda

Entrevista

Tiago Ramos Padilha e Bruno Padilha de Matos, estudantes.

"Na hora, pensei na minha família"

Aline Peres

A coragem dos primos Tiago Ramos Padilha, 15 anos, e Bruno Padilha de Matos, 14 anos, evitou que a tragédia que vitimou a estudante Sandra da Luz dos Santos, 11 anos, em Almirante Tamandaré, fosse ainda maior. Sandra e a amiga Suele Cristina Pedrosa Contador, 9 anos, foram arrastadas pela enxurrada de um córrego no bairro Jardim Roma. Eles conseguiram salvar Suele, mas Sandra morreu afogada. Ontem, no lugar onde ocorreu o salvamento, eles contaram à reportagem como tudo aconteceu.

O que os levou a irem em socorro das meninas?

Bruno – Estava sentado, olhando pela janela (a casa é no alto e tem uma visão geral do bairro).

Quando vi que a água do córrego começou a subir com violência.

Um "piazinho" passou. As meninas, não.

Tiago – Na hora, pensei na minha família. Meus pais não gostariam que isso aconte­cesse comigo. Vi uma delas caindo e pedindo socorro. Saí correndo.

Como foi o salvamento?

Bruno – Entramos na água, nem sabia nadar direito, mas entramos. Estava gelada. Como a menina se debatia muito, tentei colocá-la nas minhas costas. Não deu. Ela chora­va e perguntava todo tempo da amiga. Coloquei ela nas costas do Tiago (o menor em tamanho dos dois) e saí para buscar a corda. Tiago – Fiquei meia hora na água, mais ou menos. Estava fria e começou a me dar cãibra. Mas eu só pensava: tenho que sair daqui de qualquer maneira. Senão, eu e ela vamos morrer. Ao colocá-la no chão, fomos tentar encontrar a outra. Uma senhora nos ajudou com uma toalha, estava muito frio. Entre o salvamento e a busca foram sete horas.

Qual o sentimento que ficou?

Tiago – Estou orgulhoso, mas a minha família ficou com medo porque nós podíamos ter mor­rido. Foi um trabalho de equipe. Na nossa família sempre apren­­demos que é importante ajudar.

  • No Parque Barigui, o volume de água surpreendeu os visitantes: bacia de acumulação

Os estragos provocados pelas chuvas dos últimos dois dias em Curitiba e região metropolitana poderiam ser bem maiores se não existissem os parques públicos. Criados entre as décadas 1970 e 1990, estes espaços funcionam como uma espécie de reservatório, que ajudam a drenar a água da chuva e são chamados tecnicamente de bacias de acumulação. Na chuva de anteontem, parques como o Barigui e o São Lourenço ficaram completamente submersos depois que a água dos lagos transbordou. As imagens, surpreendentes, chamaram a atenção sobre a eficácia destes reservatórios naturais no combate à chuva de grandes proporções e levantaram uma questão: esse sistema para contenção de alagamentos estaria saturado?

Para o engenheiro civil Carlos Eduardo Morelli Tucci, doutor em Recursos Hídricos pela Colorado State University, nos Estados Unidos, os parques são soluções imediatistas para um problema maior que é a impermeabilização do solo. "As enchentes são resultado da má gestão do solo e da falta de uma gestão ambiental adequada", diz.

Na opinião de Tucci, autor de livros sobre o tema, governos gastam bilhões em projetos como parques e piscinões – reservatórios artificiais, geralmente subterrâneos, cujo escoamento da água costuma ser feito por meio de bombas, já que os reservatórios geralmente estão em um nível mais profundo do que rios e esgotos pluviais – enquanto a solução é mais complexa. "Falta coragem para implementar uma legislação que obrigue os empreendimentos imobiliários a reservar um espaço dentro do terreno para o escoamento da água, dividindo a responsabilidade com o poder público", defende.

Ao contrário do discurso dos gestores públicos municipais, o professor da Universidade Fe­­deral do Paraná, Cristóvão Vi­­cente Fernandes, especialista em Reservatórios e Redes de Distribuição de Água, afirma que os parques não foram criados para represar a água e evitar alagamentos, mas para afastar as pessoas dos leitos dos rios.

De acordo com Fernandes, que é engenheiro civil, a solução para o problema é a combinação de medidas estruturais com não estruturais. "Precisamos de uma boa gestão do uso do solo. Deixar para o rio o que é para o rio. Retirar as pessoas das áreas de risco. Criar tanques de contenção e implantar um sistema ousado de drenagem, que Curitiba ainda não tem", diz.

Desassoreamento

Ao todo, a capital tem 25 parques com lagos que ajudam a represar a água da chuva. Mas na opinião de Nicolau Klüppel, ex-técnico do Instituto de Pesquisa e Planeja­mento Urbano de Curitiba (Ippuc) e criador de grande parte dos parques da cidade, são necessários mais 50.

Segundo Klüppel, a solução para enchentes de Curitiba está na acumulação da água. "O correto seria transformar todas as áreas de várzea (campos de inundação) em áreas de contenção", diz. Para ele, os reservatórios existentes não estão defasados, o problema está na quantidade. "Precisamos criar várias piscininhas e piscinões ao longo dos rios Atuba, Barigui, Passaúna... A solução existe, o plano de drenagem de Curitiba e RMC, que re­­gulariza e regulamenta todo o sistema, foi concluído em 2002, mas pouca gente conhece ou obedece", conta. O desassoreamento das lagoas também é outro ponto que Klüppel acredita ser essencial. "Eu não sei como está agora, mas na minha época o desassoreamento era feito de três em três anos. Lagoas de contenção, desassoreamento periódico e o cumprimento do plano de drenagem resolveriam os problemas de enchente em Curitiba", afirma.

Tempo seco, só em março

A chuva que causou alagamentos, desabamentos e morte em Curitiba e a região me­­tropolitana foi acima da mé­­dia. Em um dia, choveu cerca de 47% do volume que era esperado para o mês. De acordo com o Instituto Tecno­lógico Simepar, foram 66,8 mm de chuva, quando o índice de todo o mês varia entre 150 mm e 175 mm. Hoje, a previsão é de mais chuva. São esperadas pancadas fracas e mais esparsas. Cada milímetro de chuva equivale a um litro de água despejado em uma área de um metro quadrado.

Segundo o meteorologista Lizandro Jacobsen, a chuva dos últimos dias estão associadas a uma frente fria, o que pode ter reforçado o volume de chuva que, em fevereiro, já está acumulado em 203 mm. "As próximas duas quinzenas devem manter o padrão de chuvas com pancadas fracas a moderadas à tarde. Dias mais secos são esperados apenas para março", comenta.

Segundo o Simepar, as chuvas de janeiro e fevereiro não são tão incomuns e nem se aproximam das maiores volumes registrados nos últimos anos. Segundo o órgão, o que mais chama a atenção é a quantidade. Em dois meses foram apenas sete dias sem água na capital.

Veja a galeria de fotos da chuva em Curitiba e RMC

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