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Entrevista

Pelo fim do estigma

Luiz Fernando Delazari, secretário de Estado de Segurança Pública

Há pouco mais de duas semanas, forças da Polícia Militar e Polícia Civil realizam operação especial na Vila Torres, para controle de criminalidade. A ocupação funciona 24 horas. O estopim do conflito de 2008 foi a morte de André dos Santos Neves, por PMs, em 9 de outubro. A execução teria sido arbitrária. A região – uma área dez vezes menor do que o minúsculo bairro do Alto da Glória – é historicamente zona de conflito na capital. Quem padece é a população local, que se debate, desde a década de 50, contra o estigma de lugar violento. O secretário de estado de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, conversou com a reportagem sobre o "elemento Torres".

Qual o papel da comunidade na recuperação da vila?

É fundamental. Não há como recuperar totalmente qualquer espaço urbano sem a colaboração e o envolvimento das pessoas que vivem no local. O que é muito importante é mudar este estigma de que na vila só tem bandido. Lá, a grande maioria é de gente trabalhadora. O problema é que alguns traficantes que querem comandar o lugar ameaçam a população local, que fica com medo e prefere não contrariá-los seja por alguma dívida, seja por medo mesmo.

Em que medida a resolução dos impasses da vila implicaria mudança em outros pontos da cidade?

A Vila Torres e o Parolin são das aglomerações populacionais mais antigas da cidade e que continuam desorganizadas por conta da falta de ações eficazes de um grupo político que está há 20 anos no poder sem se preocupar em realizar melhorias definitivas nestas e em outras regiões. Obviamente que se isso acontecesse, se a área fosse trabalhada com seriedade pela prefeitura, o efeito seria sentido primeiro pelos locais vizinhos a estas regiões e com certeza por toda cidade, já que estas regiões muitas vezes são locais que servem de esconderijo para grandes bandidos.

A existência da vila, há tanto tempo, praticamente no Centro, é apontada como um paradoxo. O senhor vê ali um problema de planejamento, urbanização, orfandade do poder público?

Com certeza o criminoso jovem de hoje não foi apenas órfão de mãe ou de pai, mas foi órfão do poder público que não fez sua lição de casa social.

Por que é tão difícil trazer a ordem para um lugar onde moram 8,5 mil pessoas, e onde a comunidade parece, pelo menos, organizada?

Não é difícil trazer a ordem. O que parece difícil é levar a urbanização para lá, devolver a dignidade de vida para aquelas pessoas, recuperar o local através de fortes ações do poder público municipal. Não há no mundo polícia que resolva o problema da criminalidade que nasce do ódio, da falta de dignidade, da falta de emprego, da fome, da miséria. No caso da Vila Torres, a solução está efetivamente no empenho do poder público municipal em tirar aquela população da miséria para que não sejam reféns da criminalidade.

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