
Nesta semana um grupo de pesquisadores norte-americanos vivenciou uma realidade diferente na Chácara dos Meninos de 4 Pinheiros, um abrigo que cuida de crianças em situação de vulnerabilidade social. Cinco dentistas da Indiana University School of Dentristy vieram ao Brasil para atender meninos que moravam nas ruas e agora têm uma chance de construir um futuro diferente. O motivo é nobre: solidariedade. Cada ano um grupo de estudantes e professores vai a diferentes países da América Latina para poder aplicar na prática o que aprendem em sala de aula. E o grupo do dentista John Jeppson, 30 anos, encantou-se com a chácara.
Este é o segundo ano que Jeppson vai a Mandirituba, na região metropolitana de Curitiba, onde se localiza a organização não governamental. Deixou nos Estados Unidos a mulher e o filho de apenas 12 semanas. Veio para ajudar meninos como Julio*, que antes de chegar à chácara nunca tinha ido ao dentista. O menino de 9 anos está no local há dois. Quando chegou tinha todos os dentes superiores podres e não conseguia se comunicar. Passava os dias na rua até ser encontrado pelo Conselho Tutelar e encaminhado para a a ONG. Hoje é uma criança que voltou a sorrir, e com todos os dentes branquinhos e bem cuidados.
Dois dos voluntários norte-americanos já foram missionários de uma igreja evangélica, mas esta não é a regra e sim a vontade de ajudar. Jeppson foi um deles. Morou em São Paulo por dois anos cumprindo sua missão na igreja, mas ficou encantado com o que viu na comunidade de 4 Pinheiros. Mesmo formado resolveu encarar a nova missão e abandonar por uma semana o emprego e a família. E pagando por isso. Assim como os colegas Aron Layton, 29 anos, e Robert Brandt, 27. A experiência não faz parte do currículo universitário, por isso é custeada pelos acadêmicos. O grupo todo se reúne e organiza eventos para subsidiar a ida dos colegas para os países vizinhos pobres. Dividem o dinheiro e pagam a quantia que falta.
Os dentistas passam os dias trabalhando. Chegam às 8 da manhã e só vão embora no fim do dia. Param para almoçar meia hora e em esquema de revezamento. "Percebemos que as pessoas no Brasil têm muita carência. Nos Estados Unidos todos vão ao dentista pelo menos uma vez ao ano, e aqui poderia passar um dia todo cuidando de uma só criança. Queria ter mais tempo", diz Jeppson. E as impressões do jovem dentista são traduzidas em números pelo Ministério da Saúde. Cerca de 28 milhões de brasileiros nunca foram ao dentista e quase 60% das crianças têm pelo menos uma cárie.
Olhar atento
A curitibana Andrea Ferreira Zandoná é professora na Indiana University há oito anos. Foi dela a iniciativa de vir ao Brasil. A instituição tem um convênio com a Universidade Positivo, que indicou a chácara para o voluntariado. Ela conta que a experiência engrandece o conhecimento dos alunos e abre possibilidades para que eles possam auxiliar também as pessoas nos Estados Unidos. "Quando vivemos a realidade aprendemos a dar valor às pessoas. Os meninos de rua estão sempre aí e de certa forma nós nos protegemos emocionalmente deles. A nossa vinda para cá expõe suas trajetórias tanto para as nós quanto para as pessoas daqui".
O fundador da chácara, Fernando de Gois, tem o mesmo pensamento e conta porque voluntários ilustres, como o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, encantam-se com o local. "Mostramos que os nossos meninos são especiais. Os voluntários, além de ensinar, também aprendem e fazem os brasileiros perceberem que precisam olhar com mais atenção para nossas crianças".



