
Dois acidentes de trânsito que ocorreram no estado neste fim de semana, provocados por motoristas embriagados e sem habilitação, trouxeram à tona uma das vantagens proporcionadas pela lei seca, que passou a vigorar no fim de maio do ano passado. Especialistas dizem que, se por um lado a lei não conseguiu coibir plenamente a combinação bebidas alcoólicas e direção, em função da falta de fiscalização ostensiva, por outro vai garantir uma punição mais severa, que servirá de exemplo. Os infratores desse fim de semana, que se envolveram em acidentes em Curitiba e em Campo Mourão (Noroeste do Paraná) com saldo de 15 feridos alguns internados em estado grave até a noite de ontem podem pegar pelo menos cinco anos de prisão pelas infrações.
Os dois casos são, na verdade, bastante comuns. Em 2008, dos 39.298 acidentes de trânsito com feridos no Paraná, 3.599 deles ocorreram em função da imprudência de pessoas que dirigem sem carteira.
Mesmo com a impossibilidade de reduzir todas as infrações, os especialistas são otimistas quanto aos benefícios globais. "O verdadeiro nome deveria ser lei de salvar vidas", diz o médico e diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) Alberto Sabbag. "O balanço é positivo e a prova disso é que quando acontecem acidentes como este, com 15 vítimas, a primeira evocação da sociedade é a lei seca", argumenta. "A primeira referência nas tragédias é que a lei deveria funcionar melhor". Sabbag diz que há necessidade de mais fiscalização e também campanhas educativas. Ele não acredita que houve um afrouxamento da lei e diz que os maiores benefícios virão a longo prazo. "A sociedade tem que lutar pela aplicação plena desses dispositivos, porque é a única segurança. Depois do acidente, há pouco que se pode fazer".
A lei seca pode ajudar a diminuir o número de infrações de trânsito, segundo o advogado e professor de Direito de Trânsito da Unicuritiba Marcelo José Araújo. Mas ela tem pouca eficácia em pessoas que dirigem sem habilitação. Ele acredita que quem comete tal infração é imprudente sob o efeito do álcool ou sem a substância. "É o mesmo caso de infrações ligadas à conservação do veículo. Não há como a lei seca coibir isso diretamente". Para Araújo, quem aderiu à lei e parou de ingerir bebidas alcoólicas ficou mais atento e reduziu infrações como o excesso de velocidade e furo do sinal vermelho.
Indignação
Duas filhas do supervisor de elétrica Éder Modesto foram feridas no acidente que ocorreu em Curitiba, no sábado. As meninas de 16 e 21 anos iriam jogar uma partida de futebol e ambas tiveram fraturas graves. "Não tenho raiva do garoto, mas estamos indignados com a falta de fiscalização da lei. Se houvesse mais rigidez, pessoas como ele não teriam este tipo de comportamento", desabafa. "Parece que a polícia relaxou e aí todos fazem o que querem". O pai das garotas pretende agora iniciar uma campanha de conscientização junto a outros jovens.
Willian de Lima Costa também ficou indignado com o acidente. Ele teve a mãe e a avó feridas no acidente da capital. As duas voltavam do cabeleireiro junto com a prima de Willian, Maria Vitória, de apenas 4 anos, que não sofreu nada nem a polícia nem os familiares sabem explicar como a menina saiu ilesa.
* * * * * *
Interatividade
Você acha que a lei seca vai continuar surtindo efeito neste ano?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.



