
São Paulo - A eliminação seletiva de memórias deixou de ser apenas ficção científica ao menos no caso dos camundongos. Um grupo de pesquisadores da Universidade da China Oriental, em Xangai, e da Faculdade de Medicina da Geórgia, nos Estados Unidos, conseguiu apagar recordações específicas do cérebro dos roedores sem danificar as estruturas neuronais ou prejudicar outras lembranças. O estudo será publicado hoje na revista científica Neuron. Os pesquisadores eliminaram memórias relacionadas a situações dolorosas e ao conhecimento de objetos previamente apresentados às cobaias.
Os cientistas já sabiam que a enzima aCaMKII, presente no cérebro dos roedores, desempenhava um papel importante nos processos de memorização e aprendizagem. Para conhecer melhor o funcionamento da substância, criaram uma linhagem de camundongos transgênicos que produziam, na parte anterior do cérebro, uma quantidade excepcionalmente alta da enzima.
Os pesquisadores também sintetizaram uma substância inibidora a NM-PP1 que, quando injetada nas cobaias, restabelecia os níveis normais da aCaMKII durante um intervalo de tempo limitado normalmente 30 minutos.
Os camundongos geneticamente modificados foram submetidos, então, a diferentes testes de memória. Ficou claro que as recordações evocadas pelos roedores enquanto o nível da enzima estava alto eram apagadas de forma seletiva, irremediável e quase instantânea. Somente quando a cobaia estava sob o efeito da substância inibidora é que as memórias permaneciam intactas.
Joe Tsien, co-autor da pesquisa, afirmou que o conhecimento obtido poderá ser útil no futuro para tratar pessoas com estresse pós-traumático ou com medos associados a lembranças desagradáveis. Mas ele considera que qualquer terapia vai demorar muito para chegar. "Provavelmente, não estarei vivo quando ela surgir", considerou. Ele também recorda que a estrutura do cérebro humano é muito mais complexa.



