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operação juçara

PF encontra celulares em cela de ex-prefeito

Ministério Público quer saber motivo de mordomias oferecidas a grupo que foi preso por explorar corte ilegal de palmito

Polícia encontrou um celular com o ex-prefeito José Ananias dos Santos, o que é ilegal | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Polícia encontrou um celular com o ex-prefeito José Ananias dos Santos, o que é ilegal (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Três celulares, R$ 920 em dinheiro, lanches e um televisor foram encontrados na ampla sala usada como cela para apenas 7 dos 18 presos detidos na Operação Juçara da Polícia Federal (PF) nesta semana no litoral do Paraná. O material foi encontrado na quarta-feira, durante uma inspeção requisitada pelo Ministério Público Federal (MPF), responsável pela investigação. Os sete presos estão recolhidos no Regimento de Polícia Montada, no bairro Tarumã, em Curitiba. Os policiais federais filmaram o momento da revista e as mordomias dos presos dentro do batalhão, mas o vídeo não foi divulgado pelo MPF porque o processo está sob segredo de Justiça.

Um dos celulares foi entregue pelo próprio comando da Polícia Militar aos policiais antes da revista. O telefone teria sido apreendido com o ex-prefeito de Guaratuba José Ananias dos Santos, apontado pela PF como o "cerébro" do grupo acusado de derrubar árvores do palmito juçara (espécie em extinção) no Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange e em Áreas de Proteção Ambiental (APA) no Litoral. Durante a revista, ainda foram encontrados com o ex-prefeito R$ 920 em notas. Os outros dois celulares foram encontrados com o ex-vereador e chefe da Ciretran em Guaratuba, Mordecai Magalhães de Oliveira, e com o procurador-geral da prefeitura de Guaratuba, Jean Colbert. Na sala, com tamanho entre 70 e 80 m2, os acusados desfrutavam de duas mesas com salgadinhos, frutas e café no momento da verificação.

Além dos três presos citados, estão detidos em Curitiba o sargento da Força Verde (Polícia Militar) Valmor Santana Filho, o fiscal do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) Francisco Antônio Torres de Oliveira e Hernesto de Lorenzo, apontado tanto pelo Ministério Público quanto pela Polícia Federal como genro do coronel Jorge Costa Filho, chefe do Comando do Policiamento da Capital (CPC) da PM. Os demais 11 presos estão detidos em delegacias de Paranguá, Antonina e Morretes.

Investigação

Os confortos oferecidos aos sete presos serão investigados e denunciados, segundo o procurador do MPF em Paranaguá, Alessandro José Fernandes de Oliveira. "Por que estes sete são diferentes dos milhares de outros presos?" questionou. O procurador prometeu pedir explicações formais à Polícia Militar para explicar por que eles ficaram detidos sob a custódia da corporação, já que um dos presos tem relações de parentesco com um oficial do alto comando da PM. Segundo Fernandes, chama atenção também a gentileza dos policiais militares. "(Os presos) não foram sequer revistados", afirmou.

O delegado-chefe da PF em Paranaguá, Jorge Luiz Fayad Nazário, explicou que antes da operação requisitou apoio da Secretaria de Estado da Segurança Pública para dar custódia aos presos, já que não haveria espaço para manter todos os detidos no Litoral. "Não tinha outra alternativa a não ser pedir auxílio da secretaria", declarou. Ele disse que será feita uma investigação para saber quem facilitou a entrada dos celulares, prática que é crime. "Tem de apurar e responsabilizar quem deixou entrar esse material ali dentro", disse.

Habeas corpus

O juiz federal Sebastião Ogê Muniz, da 7.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre, concedeu ontem habeas corpus para o procurador-geral do município de Guaratuba, Jean Colbert, um dos presos na operação de terça-feira. "(O habeas corpus) abre a possibilidade para todos pedirem. A prisão foi revogada por falta de fundamentação", afirmou o advogado de Colbert, Eduardo Ferreira. Ele argumenta que seu cliente foi preso por ter defendido o ex-prefeito de Guaratuba José Ananias dos Santos no passado. "O Jean não tem ligação nenhuma com crimes contra a fauna e a flora. Foi como na Revolução Francesa, quando condenavam o cliente e o advogado", disse. "Falam em coação de testemunhas, mas ainda estava em fase de inquérito. Podemos falar em coação de testemunhas na fase processual, mas não concluíram o inquérito em 11 meses. Minha maior preocupação é que, no estado democrático de Direito, uma pessoa não pode ir para o cárcere porque está defendendo seu cliente", alegou.

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