Rio A Polícia Federal (PF) começou a levar de avião para Brasília, ainda ontem, os presos de uma operação contra jogo ilegal realizada nesta sexta-feira. Dois acusados detidos na Bahia chegaram no fim da tarde à superintendência da PF em Brasília. A operação, batizada de Hurricane (furacão, em inglês), resultou na prisão de 25 pessoas, entre elas desembargadores, delegados da PF, um procurador que já estava afastado, contraventores, um agente e um servidor da PF, além de empresários e advogados.
A operação foi deflagrada de manhã no Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e no Distrito Federal.
Segundo a PF, em Brasília os presos ficarão na carceragem da superintendência da PF, onde vão prestar depoimento. Um jato EMB- 145 foi colocado à disposição da PF no Rio de Janeiro para transportar os presos. Como foram efetuadas prisões em outros estados, a PF está estudando a melhor forma de fazer o deslocamento até Brasília.
Segundo a PF, ao todo, foram cumpridos 70 mandados de busca e apreensão e 25 de prisão. As investigações foram coordenadas pelo Departamento de Inteligência da PF. Em Brasília, os policiais apreenderam documentos em dois endereços, entre eles um escritório de advocacia.
Na operação, foi apreendido um volume de dinheiro que a polícia afirma ser muito grande, mas que ainda, até o fechamento desta edição, estava sendo contado e que será transportado em um carro-forte para uma agência da Caixa Econômica Federal. Trinta carros a maioria importados e uma moto foram levados para o estacionamento do Cais Porto, na Praça Mauá, no centro do Rio, e que fica em frente da sede regional da Polícia Federal.
Os detidos são suspeitos de envolvimento em exploração de jogos ilegais, corrupção de agentes públicos, tráfico de influência e receptação. Por envolver pessoas com foro privilegiado, o caso está sendo conduzido pelo Supremo Tribunal Federal, e o ministro Cezar Peluso decretou sigilo de Justiça.
Entre os presos, estão o ex-vice-presidente do Tribunal Regional Federal, desembargador José Eduardo Carreira Alvim; o juiz Ernesto da Luz Pinto Dória, do Tribunal Regional do Trabalho (15.ª Região, em Campinas); o delegado da Polícia Federal de Niterói, Carlos Pereira da Silva; o procurador regional da República João Sérgio Leal Pereira, que está afastado.
Também estão na lista Aniz Abraão David, presidente de honra da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis; Aílton Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio; seu sobrinho Júlio Guimarães; e o banqueiro do jogo do bicho Antônio Petrus Kalil, também conhecido como Turcão.
"Estamos diante das maiores operações de combate a corrupção já realizadas no Brasil, pelo nível das pessoas detidas. Os delegados ganhavam para atacar determinados grupos", contou o Renato Porciúncula, diretor de Inteligência da PF. Ao todo, 360 policiais de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, e 94 viaturas foram trazidos desses estados para o Rio em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB).
As investigações tiveram início há um ano, quando a PF descobriu contrabando de componentes eletrônicos para máquinas caça-níqueis. Na mesma época, o delegado da PF que foi preso ontem, Carlos Pereira, comandou a operação Vegas para reprimir o funcionamento ilegal de bingos e de máquinas caça-níqueis. A operação acabou deflagrando duas outras ações na seqüência, Vegas II e III.



