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Pílula “anticâncer” vence obstáculos e recebe estímulo do poder público

Pressionados, governos estaduais e União resolveram investir em pesquisa da fosfoetanolamina sintética, droga com suposta ação anticâncer

Anvisa agora estuda a substância e dois governos estaduais se dispuseram a incentivar as pesquisas. | /
Anvisa agora estuda a substância e dois governos estaduais se dispuseram a incentivar as pesquisas. (Foto: /)

O professor aposentado de Química Gilberto Chierice enfrentava dias tempestuosos há pouco mais de um mês, em meados de outubro. Responsável pelo desenvolvimento da fosfoetanolamina sintética, um composto ao qual atribuía superpoderes contra o câncer, ele se achava desautorizado pela Universidade de São Paulo (USP), a instituição onde trabalhara durante décadas, era recriminado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão federal responsável pela regulamentação de medicamentos, e sofria ataques pesados de entidades médicas brasileiras e de pesquisadores, que o chamavam de “charlatão”.

Cercados de críticos, Chierice e a fosfo poderiam parecer acabados. Mas pouco mais de um mês depois, em uma sexta-feira, o químico podia ser visto em um dos mais flamantes centros de poder do país, o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Na mesma sala, ouvindo-o com respeito, encontravam-se o governador Geraldo Alckmin e ninguém menos do que o ministro da Saúde, Marcelo Castro. Naquele momento, a Anvisa já havia criado um grupo de trabalho para investigar a molécula, dois governos estaduais – incluindo o do Rio Grande do Sul – ofereciam-se para testar a substância e R$ 10 milhões da União estavam liberados para a pesquisa. O vento havia mudado completamente de direção.

As engrenagens que levaram autoridades políticas a somar-se à causa da fosfoetanolamina – contrariando o parecer de entidades científicas nacionais e internacionais – já estavam em rotação meses antes de Chierice tornar-se alvo de ataques generalizados. Durante duas décadas, o professor usou a estrutura do laboratório de química da USP em São Carlos (SP) para produzir a fosfo e distribuí-la informalmente entre doentes de todos os tipos de câncer, sequiosos por alguma terapia alternativa. Os advogados de Chierice afirmam que 16 mil pessoas tiveram contato com a molécula dessa forma.

No ano passado, pouco depois de o professor aposentar-se da USP, a universidade publicou uma portaria proibindo o laboratório de dar continuidade à produção e à distribuição. Em lugar de banir a substância, a medida teve efeito contrário. “As pessoas que tomavam a fosfo se desesperaram. A proibição da USP serviu para propagar a informação”, diz o advogado Fábio Maia, que assessora Chierice.

Quem usava o composto despejou o desespero nas redes sociais, apresentando a fosfo como um remédio milagroso que estava sendo sonegado. Diante do burburinho de que havia uma pílula supostamente milagrosa contra o câncer, quem quer que estivesse doente ou tivesse alguém em situação delicada na família passou a nutrir uma nova esperança.

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