Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Floresta

Plano investirá US$ 15 bi na Mata Atlântica

Pacto pretende recuperar área de mata nativa equivalente ao tamanho do Paraná até 2050

Serra do Mar: só 7% de mata conservada | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Serra do Mar: só 7% de mata conservada (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)
Veja os estados que mais devem recuperar a Mata Atlântica |

1 de 1

Veja os estados que mais devem recuperar a Mata Atlântica

Ponta Grossa - Forças governamentais, econômicas e ambientais se uniram e se comprometeram a recolocar no mapa brasileiro uma área equivalente ao Paraná de Mata Atlântica até 2050. O anúncio foi feito ontem, em São Paulo, durante o lançamento do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. A meta do projeto é recuperar nas próximas quatro décadas ao menos 15 milhões de hectares de floresta. O Paraná aparece como o segundo que mais deverá receber incentivos para a restauração de mata. Serão 2,4 milhões de hectares em solo paranaense – o que significa que uma área do tamanho de 13 parques nacionais do Iguaçu ressurgirá como mata recuperada.

Se o objetivo for alcançado, o Brasil vai passar dos atuais 7,26% de Mata Atlântica conservada para 30%. Não há estudos específicos sobre o ritmo de desmatamento antes da década de 80, mas especialistas calculam que a nova floresta prometida seria suficiente para recompor a paisagem que havia antes da pressão do ciclo do café (que foi de 1800 a 1930). Para isso, cerca de US$ 15 bilhões devem ser aplicados até 2050 – a estimativa é de US$ 1 mil para cada hectare recuperado. Isso sem desapropriar áreas ou criar novos parques. Os 30% representam apenas o que a lei atual exige – como 20% de reserva legal em propriedades rurais e preservação de margens de rios e encostas.

A iniciativa lançada ontem é inédita porque coloca, na mesma mesa, ambientalistas, governos, empresas e entidades de pesquisas. Todos se comprometeram, por meio de um protocolo formal, a respeitar todas as prerrogativas do projeto. Entre os 52 signatários estão o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Ambiental do Paraná, organizações não-governamentais de cunho ecológico do porte da WWF-Brasil, da Fundação SOS Mata Atlântica e da Fundação Boticário, e empresas como a Vale. Todos os integrantes serão cobrados, anualmente, sobre suas ações para a eficiência do pacto. Em linhas gerais, o projeto é uma forma de concentrar recursos e esforços dentro de uma política pública única e integrada. Atualmente, muitos setores trabalham com propostas ambientais, mas as ações são esparsas, pulverizadas e muitas vezes sem rumo.

Essa foi a percepção resultante de um encontro de ONGs realizado há dois anos. Naquele momento, ambientalistas decidiram que era necessário se unir e fazer algo em torno de um objetivo comum. "Concluímos que muito estava sendo feito, mas que não estava surtindo resultado. Cansamos de perceber que não saíamos do índice de 7% de Mata Atlântica", conta Miguel Calmon, coordenador-geral do Conselho de Coordenação do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. Além de concentrar recursos, o objetivo do pacto é ganhar musculatura e, assim, conseguir acesso a mais fontes de dinheiro, como financiamentos internacionais.

Um mapeamento identificou as áreas potenciais para restauração. Os critérios foram, basicamente, a existência de um passivo ambiental (menos do que manda a lei de reserva legal, por exemplo) e terrenos com pouca aptidão agrícola. No Paraná, boa parte da potencialidade de restauração fica na Região Central do estado – que sofre com a baixa atividade econômica. Calmon destaca que as propostas vão sempre dar prioridade a uma forma de garantir dinheiro para os envolvidos, sem defender apenas o viés ambiental.

Calmon, escolhido o porta-voz do pacto, também destaca que as ações que visam a preservar o pouco que resta de mata nativa não serão relegadas a segundo plano. "Os 7% de remanescentes são a nossa base genética. Precisamos mantê-los, mas não queremos ficar nisso. E, para que esse pouco não seja ainda mais pressionado, devemos começar a recuperar áreas", diz. O Paraná deve concentrar maior volume de recursos porque há um grande passivo ambiental a ser recuperado.

Organizações ambientais já trabalham com a estratégia de recompensar financeiramente proprietários que preservam mata nativa. E uma das principais ações do pacto tem como objetivo, agora, também auxiliar economicamente quem não tem áreas conservadas. Incentivos, através de mudas, assistência técnica ou outro tipo de instrumento serão destinados para os proprietários que precisam restaurar áreas degradadas. "Muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem que querem recuperar, mas que não têm dinheiro, não têm cerca ou não sabem como. Muitos esforços serão voltados para ajudar esse proprietário", explica Calmon. Essas áreas são particulares e vão continuar no setor privado.

O pacto defende a restauração florestal porque a recomposição gera a regulação do clima e a redução dos efeitos de gases estufa, a proteção da água dos rios, a defesa do solo, minimizando a erosão, além de garantir o fornecimento de diversos produtos, como madeiras, plantas medicinais e outros. O tempo de regeneração de cada área varia de acordo com o tipo de vegetação e o clima, mas a estimativa é de que leve de 30 a 40 anos para ser novamente uma floresta.

* * * * *

Interatividade

Existe chance de a Mata Atlântica voltar a ser o que era antes do ciclo do café?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou deixe seu comentário abaixo

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.