
A Plumbum não deixou só lixo tóxico em Adrianópolis. Deixou uma cidade dividida. Os moradores têm opiniões divergentes sobre a presença da mineradora no município. De um lado, os que lembram dos benefícios nos tempos áureos, saudosismo comum entre os mais velhos, e de outro, os que reclamam dos problemas e do estigma deixados pelo chumbo. Há trabalhadores das minas que nunca mais conseguiram emprego com carteira assinada por causa do receio de se contratar gente "doente".
Porém há quem fica indeciso. Aparecida Batista dos Santos, 63 anos, cujo marido foi motorista da Plumbum, reconhece os avanços, mas lamenta a poluição ambiental. Depois de quase 20 anos sem voltar ao morro onde se fazia mineração, ela ficou chocada. "Não dá nem para acreditar que aqui já existiu uma cidade. Havia praça, mercado, lojinhas", diz. O que não pôde ser levado foi abandonado. Ela diz que havia prosperidade naquela época.
Apesar da saudade, Aparecida viu amigos padecerem de doenças relacionadas ao chumbo. Com dores forte no corpo, a nora está com suspeita de contaminação. Os pais morreram com problemas no pulmão. O pai trabalhava na Plumbum e a família morava em um morro ao lado de onde se fazia a mineração. Aparecida e o filho estão juntando dinheiro para fazer exames. Para ela, o município precisa é de mais atenção dos governos.
Valdecir do Prado Miranda cresceu em frente da mineradora. Hoje, aos 40 anos, mora em Curitiba, mas passou 30 deles no bairro Capelinha. Diz que a família nunca teve nenhum problema de saúde devido ao chumbo. Adão de Cristo Ramos, 50 anos, ficou 16 na empresa. Afirma que nunca teve problemas sérios, apenas intoxicação e vômito devido a fumaça. Dois de seus seis filhos tiveram de tomar remédio contra o chumbo. Ele diz que, com a falência, a maioria do pessoal que trabalhava na empresa foi embora. Os que ficaram seguiram a vida normalmente.
O pesquisador Guilherme Albuquerque, da equipe da UFPR, acredita que a Plumbum construiu uma relação de dualidade. "A população apresentava condições de vida e benefícios que não tinha antes, por isso esse sentimento dúbio", explica. O professor Vander De Freitas Melo diz que a população podia ver os benefícios trazidos pela empresa, mas não pôde ver a contaminação. "Antes, tinham o que comer, por exemplo, e hoje não têm". O trabalho de extensão da UFPR tem o objetivo de abrir os olhos. "Queremos que a própria comunidade se conscientize dos malefícios, saiba de quem cobrar os danos e cobre soluções."



