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Veja como foi o confronto, conforme versão da Polícia Militar |
Veja como foi o confronto, conforme versão da Polícia Militar| Foto:

Criminalista defende curso humanista para policiais

A polícia brasileira, de um modo geral, age orientada pelo princípio da presunção de culpa, em vez da presunção de inocência, avalia o advogado criminalista Juarez Cirino dos Santos, professor de Direito Penal da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente do Instituto de Criminologia. Por essa lógica, o policial age como se toda pessoa suspeita fosse criminosa. Assim, ele próprio prende, julga, sentencia e executa a pena. "E aplica uma sentença que nem existe no Código Penal, que é a sentença de morte", diz Santos, também pós-doutor em Política Criminal.

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Licença para matar

O confronto de ontem elevou para 66 o número de pessoas mortas pela Polícia Militar em Curitiba e região metropolitana, conforme levantamento da Gazeta do Povo. Os números foram obtidos nos arquivos de matérias já publicadas, já que a Secretaria de Segurança Pública não dispõe dessas informações. Abaixo, alguns exemplos.

17/02/09 – Felipe de Santana, 19 anos, Jaison Izidoro Camargo, 21, e Daniel Zanlorenzi Batista, 24, morrem em perseguição da polícia em São José dos Pinhais.

07/02/09 – Odair dos Santos, 33 anos, morre em confronto com a Polícia Militar depois de tentar assaltar um entregador de pizza, em Pinhais.

26/01/09 – Everton Murilo Santos Cordeiro, 21 anos, é baleado em tiroteio com a PM, em Colombo.

24/01/09 – O encanador Jocicley Antônio da Silva, 18 anos, troca tiros com a PM na CICI e morre a caminho do hospital. Momentos antes ele havia matado duas pessoas.

23/12/08 – Claudinei do Nascimento, 34 anos, troca tiros com policiais militares após roubar um carro. Morreu a caminho do Hospital do Trabalhador.

08/12/08 – Marcos Antônio Geraldo, 27 anos, morre em confronto com a polícia durante assalto a uma lotérica no Santa Cândida.

19/11/08 – Everton Luiz de Souza, 20 anos, teria revidado à abordagem da polícia, é baleado e morre ao dar entrada no Hospital do Trabalhador.

27/10/08 – Josemir Alves Ribeiro, 17 anos, morre em confronto com policiais militares. Ele respondia a cinco homicídios e mantinha uma família refém por mais de 16 horas.

06/10/08 – Arnaldo José da Silva, 24 anos, e Ademar do Amaral, 25 – acusado de ser autor de um triplo homicídio –, são mortos em confronto com policiais militares, em São José dos Pinhais.

01/09/08 – Luiz Marcos morre em troca de tiros com a PM após assaltar uma estação-tubo junto com um comparsa no Jardim América.

14/08/08 – Nivaldo Dias Siqueira, 39 anos, é perseguido e morto pela PM ao não parar numa abordaram, no Tatuquara.

13/08/08 – Robson de Oliveira morre no hospital depois de baleado por um policial durante a tentativa de furto de uma moto, em Pinhais.

30/07/08 – Marcelo Ferreira de Lima, 25 anos, morre em confronto com policiais militares, em Fazenda Rio Grande.

20/07/08 – Alexandro da Silva Ferreira, 23 anos, morre em confronto com a Rone, em Colombo.

Seis homens do mesmo grupo criminoso foram mortos pela Polícia Militar em três confrontos sucessivos entre as 22h30 de quinta-feira e 1h30 de ontem, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba. O Comando de Policiamento da Capital (CPC) diz que eles iriam exterminar um grupo rival do narcotráfico no bairro Monte Castelo, em Colombo. Com o grupo, foram encontrados seis revólveres calibre 38, uma pistola calibre 357 e um colete à prova de balas. Outros seis acusados fugiram durante o tiroteio. Um inquérito militar irá apurar se houve abuso de força policial.

Com esse episódio, sobe para pelo menos 66 o número de pessoas mortas em confronto com a PM desde janeiro do ano passado em Curitiba e região metropolitana, conforme levantamento da Gazeta do Povo (leia mais nesta página).

A PM permaneceu ontem na região do confronto para investigar e coletar informações. Até o fechamento desta edição, apenas dois dos mortos haviam sido identificados: Mario Jorge Rodrigues Faria e Altair Boanerges Barbosa. A família de Faria não quis se pronunciar sobre o assunto.

De acordo com o coronel Jorge Costa Filho, comandante do CPC, a PM recebeu uma denúncia anônima perto das 22 horas de quinta, por meio do telefone 181, de que três veículos (um Logus, um Polo e um Monza) seguiam fortemente armados para a região metropolitana, com o objetivo de realizar uma chacina, assassinando rivais na disputa pelos pontos de tráfico de drogas. "Não tínhamos o endereço exato, mas resolvemos investigar. Uma denúncia desse porte não pode ser ignorada", afirma Costa Filho.

Por volta das 22h30, quatro unidades do Batalhão de Choque andavam pela Estrada da Ribeira quando se encontraram com os três carros suspeitos. Conforme o relato da PM, os criminosos teriam atirado contra a polícia, dando origem a um confronto. No tiroteio, três suspeitos foram baleados. "Pela forma como fomos recebidos, os oficiais pediram reforço para realizar um cerco na região e evitar a fuga do bando", afirma o comandante. À 0h30 e à 1h30, aconteceram outros dois tiroteios, deixando outros três integrantes do grupo feridos. Todos foram encaminhados ao Hospital Cajuru, mas não sobreviveram.

Costa Filho defende a forma de atuação da PM pela falta de possibilidades. Segundo as informações, o grupo estava armado e atirou primeiro sem deixar espaço para negociações. "Foi uma reação, porque eles não vieram com flores para nós. E os seis óbitos em confrontos distintos são prova disso", afirma. "Não interessa para a PM se ia haver uma guerra entre quadrilhas. É preciso agir para que nenhum inocente se machuque".

O sociólogo e coordenador do Centro de Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná, Pedro Bodê, tem opinião semelhante à do comandante do Policiamento da Capital. "Parece-me uma daquelas situações em que houve necessidade de defesa. Se por um lado a polícia não pode usar de violência ilegítima, se os acusados atiram contra a polícia fica claro que foi uma reação", afirma. "Caso contrário, a polícia não poderia evitar uma chacina causando outra".

Região violenta

A região de Monte Castelo convive com a violência, sobretudo quando o assunto é o tráfico de drogas. Em 23 de julho do ano passado, a usuária de crack Silvana Rodrigues Mizael, de 18 anos, foi encontrada decapitada em um terreno do bairro. Na época, a polícia informou que a crueldade do crime era uma demonstração do que poderia acontecer com aqueles que deixassem de pagar suas dívidas aos traficantes. O local também é conhecido pela presença de desmanche de veículos.

Para diminuir a violência, chegou-se a cogitar uma espécie de toque de recolher, fechando mais cedo bares, lanchonetes e outros pontos comerciais similares, principalmente aqueles que vendem bebidas alcoólicas. Em Colombo, os estabelecimentos deveriam fechar às 22 horas. A ideia se baseou em um projeto de Diadema (SP), que reduziu quase pela metade a criminalidade, especialmente homicídios dolosos, ao fechar os bares e similares mais cedo.

Para um professor que ministra aulas em um bairro próximo e prefere não se identificar, há necessidade de investimentos na região. "O problema é muito sério. Falta incentivo à educação, à saúde, ao lazer e ao esporte. A única política pública que se faz presente é a polícia, mas não de forma preventiva. Há uma série de fatores que podem contribuir para a diminuição da violência e esse incentivo é um deles", afirma.

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