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Denúncia

PMs são obrigados a comprar kits em escola de formação

Corregedoria investiga se oficiais de polícia intermediavam venda de agasalhos, coldres e cintos de guarnição dentro dos batalhões

Material usado no curso da PM teria de ser adquirido pelo aluno | Roberto Dziura Jr/Gazeta do Povo
Material usado no curso da PM teria de ser adquirido pelo aluno (Foto: Roberto Dziura Jr/Gazeta do Povo)

Um dia depois de reconhecer que há abusos na formação de soldados, a Polícia Militar (PM) do Paraná se vê diante de uma nova denúncia. Alunos de cursos de formação seriam obrigados a comprar kits com materiais e acessórios para usar ao longo do curso. Os relatos mostram que as compras eram direcionadas para empresas específicas, que teriam relações diretas com oficiais da corporação.

As denúncias atingem o 20.º Batalhão da PM e o Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), unidades também envolvidas em acusações de excessos nos treinamentos dos policiais. Em ambas as unidades, a venda dos kits teria sido intermediada pelos tenentes que coordenam os respectivos cursos de formação.

Um dos casos já é apurado pela Corregedoria da PM. De acordo com o termo de declaração prestado por uma aluna ao órgão, todos os alunos do curso de formação do BPTran foram obrigados a comprar agasalhos, coldres e cintos de guarnição. A compra dos coldres, por exemplo, foi direcionada para a Indústria Maynards. De acordo com o site da própria empresa, a Indústria Maynards foi fundada e é administrada por policiais militares da reserva e da ativa.

Sem nota fiscal

A aluna relata que o dinheiro foi recolhido pelo próprio tenente, que não forneceu aos alunos qualquer recibo de pagamento ou nota fiscal dos produtos. O oficial teria cobrado R$ 109 e R$ 129 pelos coldres, de acordo com o modelo. O preço seria R$ 10 mais caro do que os estabelecidos pela loja da empresa.

Outro aluno também aponta que o direcionamento da venda ocorreu no horário de aula, dentro do batalhão. O vendedor teria sido apresentado pelo tenente, sob o argumento de que precisavam padronizar os acessórios da tropa. "Foi colocado assim [pelo tenente]: ‘temos que estabelecer um padrão e o padrão vai ser este. Vocês já estão recebendo, então já têm como pagar’", relatou o denunciante.

Os policiais em formação até poderiam comprar de outro fornecedor, "desde que o produto fosse exatamente igual àquele". Mas, na prática, eles ficavam sem opção. "Como a gente ia pesquisar, se ficamos no quartel das 6 às 21 horas?", questiona o aluno.

O kit que os alunos foram forçados a comprar, citados por este policial, continha uma bolsa, uma pasta executiva, escudo do batalhão, porta-terno, cinto de guarnição e boné. Os materiais deveriam ser pagos em cinco prestações de R$ 110. Durante o curso, cada aluno recebe uma bolsa-formação de R$ 1,4 mil por mês. "Ficou pesado, porque muitos alunos estavam há tempo sem trabalhar, se preparando para o curso. Tem gente pagando isso até hoje", disse.

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