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Na casa e no apartamento dos irmãos foram apreendidos 16 cabeças de fêmur | Divulgação / Polícia Civil do Paraná
Na casa e no apartamento dos irmãos foram apreendidos 16 cabeças de fêmur| Foto: Divulgação / Polícia Civil do Paraná

Consultor de banco de ossos alerta sobre riscos

"Quem compra é tão criminoso quanto quem vende", afirmou o consultor do Banco de Ossos da Universidade Federal do Paraná, cirurgião-dentista Wilson Trevisan. Segundo ele, a demanda é muito grande e a oferta é pequena. O material é usado para enxertos em implantes, mas também para outros procedimentos, como fraturas de mandíbulas. No Paraná, apenas a Universidade Federal possui banco legalizado. No Brasil, são seis.

A utilização de ossos é um procedimento extremamente rigoroso em razão dos riscos que oferece, tanto de contaminação quanto de rejeição. "É um risco muito sério para a saúde. Pode até matar. A pessoa pode ser contaminada por qualquer tipo de doença, como hepatite, HIV", alertou Trevisan. Para eliminar o risco de contaminação, vários cuidados são tomados. A começar pela retirada dos ossos que deve ser feita por uma equipe diferente da que faz a restituição do corpo doador. "Depois de retirado, o material é tratado, radiografado, identificado e fica seis meses em observação para ver se não há proliferação de microorganismos", afirmou Trevisan. "Se tiver, o lote todo é descartado."

Outro procedimento essencial é a desnaturação de proteínas, de acordo com o dentista, para evitar a rejeição. Todos esses procedimentos, além de profissionais treinados, equipamentos para armazenamento, entre outros, conferem um alto custo ao banco de ossos. "Esses materiais são adquiridos de doadores, que são poucos. Por isso devem ser usados com parcimônia, apenas por pessoal treinado", disse Trevisan.

  • Também foram apreendidos 89 frascos com pedaços de ossos e 46 frascos com ossos moídos em um liquidificador, imersos em uma solução de soro fisiológico

Dois irmãos foram presos por tráfico e comércio de órgãos ontem em Londrina, em uma investigação até então sigilosa do Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa), de Curitiba. Na manhã de ontem, a operação culminou com a descoberta de um banco clandestino de ossos em uma casa no Jardim Cláudia (zona sul).

Segundo a Polícia Civil, a dupla presa abastecia, via Correio, "mercados" de dentistas em várias partes do país. Monitoradas, as correspondências com os materiais tinham como destino os estados de Minas Gerais (Belo Horizonte), Pará (Belém), Chapecó (SC), Goiás e Mato Grosso. A Polícia Civil atesta que pequenos frascos com ossos eram vendidos por valores de R$ 180 a R$ 250. A suspeita é de que o comércio clandestino operava desde 2004.

"Vendiam direto para dentistas e para um intermediário", detalhou a delegada, do Nucrisa, Sâmia Coser, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança.

Kléber Barroso Cavalga foi preso em casa, em um apartamento na Gleba Palhano, onde foram apreendidas quatro cabeças de fêmur sem origem comprovada. Com o irmão Carlo Keith Barroso Cavalca, morador do Jardim Cláudia, não havia ossos - mas também acabou detido porque a Justiça tinha um mandado de prisão contra ele, assim como o irmão.

Na casa e no apartamento dos irmãos foram apreendidos 16 cabeças de fêmur, 89 frascos com pedaços de ossos e 46 frascos com ossos moídos em um liquidificador, imersos em uma solução de soro fisiológico. Havia, ainda, sete embalagens com partículas de ossos e uma embalagem com fragmentos de ossos do quadril. "A quantidade de vítimas é incalculável", declarou a delegada do Nucrisa, Samia Coser, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança. Hoje, às 10 horas, novas informações devem ser reveladas em uma entrevista coletiva na sede da delegacia central.

Uma fonte do JL revelou que uma década atrás, a família, integrada também por um ortopedista do interior de São Paulo, planejava abrir um banco de ossos em Londrina, mas não obteve sucesso.

A delegada explicou desconhecer como os ossos foram extraídos dos doadores, bem como era feito o transporte e acondicionamento dos materiais.

"Na casa do Kléber, por exemplo, encontramos cabeças de fêmur armazenadas no freezer na cozinha dele", descreveu a delegada Sâmia. A Vigilância aponta que a armazenagem correta dos materiais deve ser feita em pelo menos dois equipamentos de resfriamento, com temperaturas que cheguem a até – 80º C.

O Nucrisa teve suporte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e das vigilâncias sanitárias do Estado e da Prefeitura de Londrina.

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