
Uma estrutura acanhada coloca a principal corporação de segurança do Brasil, a Polícia Federal (PF), em desvantagem para fazer frente à criminalidade na tríplice fronteira. Para vigiar 11 municípios situados na região limítrofe ao Paraguai e à Argentina, e os 170 quilômetros do Lago de Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, a corporação conta com 354 agentes e apenas quatro postos fixos de controle. Situação que compromete a fiscalização da região e o combate ao narcotráfico e ao contrabando.Segundo policiais ouvidos pela reportagem, o efetivo e o número de postos são insuficientes, faltam equipamentos, como sistema de radar, helicópteros e lancha blindada, e também recursos para cobrir as diárias dos agentes em viagens. E o cenário tende a piorar ainda mais diante do corte no Orçamento-Geral da União (OGU), anunciado pela presidente Dilma Rousseff em fevereiro. O Ministério da Justiça, responsável pela PF, perdeu R$ 1,5 bilhão de R$ 4,7 bilhões previsto para este ano.
Os reflexos do corte já são sentidos. Segundo a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), um exemplo é o pagamento de diárias prática antes comum durante os deslocamentos dos policiais que participavam de operações. Agora o pagamento depende de autorização da superintendência da PF ou do próprio Ministério da Justiça. "O pagamento se burocratizou. Você envia o pedido, mas até chegar a resposta, a droga já passou", critica o diretor da Fenapef, Naziazeno Florentino dos Santos Júnior.
Eficiência e risco
Sem se identificar para evitar retaliações, um agente diz que falta vontade política para coibir a criminalidade na fronteira. "Para um trabalho eficiente, a atuação da polícia teria de ser constante. Isso dependeria de haver um posto de polícia em cada uma das 11 cidades situadas na fronteira entre Brasil e Paraguai", defende. Mas hoje só existe um posto da PF em Santa Helena, dois em Foz do Iguaçu e um em Capanema.
O apoio das Forças Armadas também auxiliaria o trabalho na fronteira, conforme os agentes. Mas a alternativa esbarra em problemas estruturais das três corporações, principalmente a Marinha, que não tem efetivo e equipamento para o trabalho. "Há avionetas que saem do Paraguai voando 100 a 200 metros de altitude, às vezes de forma simulada. Mas a PF não conta com helicóptero em Foz do Iguaçu e nem controle de radar para rastrear voo", relata outro agente.
Risco
Além de o trabalho não ser tão eficiente, a precariedade coloca em risco os policiais. Na avaliação da Fenapef, as condições de trabalho dos agentes são difíceis não só na fronteira paranaense, mas em todos os limites do Brasil. "Sempre estamos trabalhando com pouco pessoal e as condições de trabalho são precárias. Em várias partes do Brasil a fronteira virou uma peneira. Nós temos hoje uma epidemia de crack que entra pela fronteira", analisa Santos Júnior. Como exemplo, ele cita que em Foz a PF conta com uma lancha blindada para patrulhar o Lago de Itaipu, ao contrário de Guaíra.
Para a Fenapef, a estratégia do governo está equivocada quanto à segurança nas fronteiras. O ideal, ao invés de se criar novas forças de segurança e batalhões, a exemplo do Policiamento Especializado de Fronteira (Pefron), seria equipar a própria PF e aumentar o efetivo. Em Foz, a polícia tem 18 agentes para trabalhar no Lago de Itaipu. Em Guaíra são dez, número considerado pequeno porque os policiais precisam descansar e se revezar por turno, o que torna o trabalho exaustivo quando a equipe é reduzida.
Outra medida que deve comprometer a eficiência da PF na fronteira é a mudança de foco da Força Alfa, da Polícia Militar do Paraná. A corporação, que entrou em atividade em junho de 2009, depois de ter sido classificada como um pelotão de elite do governo estadual, passou por mudanças e agora atenderá pelotões da PM na Região Oeste. Uma espécie de "desvio" da função original, que era combater o tráfico de entorpecentes especialmente nas fronteiras com Paraguai e Argentina, e na divisa com Mato Grosso do Sul.
Descentralização da PM muda foco de atuação da Força Alfa
Criada para auxiliar a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal (RF) no combate aos crimes de fronteira, a Força Alfa da Polícia Militar do Paraná passará a reforçar o trabalho dos batalhões da PM na Região Oeste. A corporação, com base em Guaíra, será subordinada ao 5.º Comando Regional de Policiamento Militar (CRPM), em Cascavel, resultado da descentralização da PM que começou a se tornar realidade no ano passado. Antes, a Força Alfa era subordinada ao Comando de Policiamento do Interior, em Curitiba.
Nomeado comandante regional, o coronel Celso Luiz Borges explica que a descentralização administrativa vai facilitar os encaminhamentos de ações planejadas de segurança na região. "Em vez de tratar questões que sairiam de Foz ou Pato Branco para Curitiba, vamos resolver regionalmente", explica.
O capitão da Força Alfa Christian Goldoni explica que o foco de atuação do pelotão de elite da PM é no patrulhamento terrestre em cidades e vias rurais na faixa de fronteira. Apesar de apoiar o trabalho dos batalhões, o capitão diz que a corporação continuará combatendo o narcotráfico e o contrabando.
O comando não quis divulgar o número atual de policiais, mas em junho de 2009 a Força Alfa foi lançada com um efetivo de 80 homens. Na ocasião, o governo do estado investiu R$ 5 milhões para aparelhar o grupo com equipamentos bélicos de ponta, incluindo um helicóptero Falcão II, metralhadoras, motos, viaturas 4x4, GPS, lunetas para atiradores, binóculos e barracas.




