
Foz do Iguaçu - Mais de 100 policiais civis e militares de várias cidades do Paraná prenderam ontem, em Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, 13 policiais civis, um guarda municipal e 16 "olheiros" acusados de cobrar suborno para facilitar a passagem de mercadorias trazidas ilegalmente do Paraguai para o Brasil.
Batizada de "Desvio", a operação foi coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Além das prisões, foram apreendidas armas, munições, uma pequena quantidade de drogas e dinheiro. Até a noite, seis policiais continuavam foragidos.
Em Santa Terezinha de Itaipu, cidade localizada a 20 quilômetros de Foz, todos os policiais da delegacia foram presos, menos o delegado e o escrivão. Uma situação semelhante foi registrada no 5.º Distrito Policial de Foz, onde três, de quatro agentes, foram detidos.
De acordo com o delegado do Gaeco, Alexandre Rorato, todos os policiais envolvidos têm residência em Foz do Iguaçu; entretanto, nem todos trabalhavam na fronteira. "Existem policiais presos que estavam lotados nas delegacias de Cascavel e da Lapa. Eles vinham para Foz apenas para participar do ato de corrupção", afirma.
Iniciada em maio de 2009, a investigação revelou um esquema muito bem articulado e lucrativo. Os "olheiros" moradores da área rural, normalmente filhos de agricultores eram aliciados pelo grupo para monitorar a Estrada Velha de Guarapuava, uma rota alternativa muito usada por sacoleiros para desviar do posto da Polícia Rodoviária Federal na BR-277.
Quando um carro ou um comboio de contrabandistas era identificado, o "olheiro" informava a polícia pelo telefone. Usando viaturas ou carros particulares, os policiais cobravam uma "taxa" de R$ 50 por veículo. "Não é possível informar com exatidão o valor arrecadado por mês, já que o número de sacoleiros que passa por aquela estrada varia muito. Eu sei que todo o dinheiro arrecadado era repartido entre policiais e olheiros, e não era pouco", responde.
Segundo o promotor do Gaeco e coordenador da operação, Rudi Rugo Burkle, além dos policiais civis, pelo menos 10 policiais militares participam do esquema. "Os policiais militares também estão envolvidos. Mas, por uma questão de atribuição, o indiciamento ficará por conta da Justiça Militar. É ela quem irá avaliar", diz.
Todos os presos foram ouvidos e encaminhados para a Cadeia Pública Laudemir Neves, em Foz do Iguaçu. Nos próximos dias, o Ministério Público vai propor uma denúncia criminal pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção e concussão (cobrança de propina realizada por agente público). Todos os policiais permanecem temporariamente afastados da função. Entre as provas do Gaeco estão algumas interceptações telefônicas, depoimentos de sacoleiros e imagens gravadas.
Atendimento
O delegado-chefe da Polícia Civil em Foz do Iguaçu, Alexandre Macorin, garante que o atendimento na delegacia local não será prejudicado. "Na delegacia central, apenas um agente foi preso, então o atendimento permanece o mesmo".
Sobre Santa Terezinha de Itaipu, Macorin diz que colocou em prática um plano emergencial para que a população daquela cidade não seja prejudicada. "Encaminhamos três policiais de Foz do Iguaçu para lá, provisoriamente. Em breve, policiais de outras cidades serão transferidos". Em relação ao 5.º DP, Macorin conta que ele será fechado.
Para evitar novas situações como essa, o delegado adiantou que na próxima semana serão instalados aparelhos de GPS em todas as viaturas da Polícia Civil. "Justamente para evitar esses desvios de conduta. Vamos saber exatamente onde cada veículo está".
Cascavel
Um dia antes da prisão dos policiais na fronteira, em Cascavel o Ministério Público denunciou cinco policiais militares da 3.ª Companhia do Batalhão de Polícia Rodoviária por improbidade administrativa. Os policiais são suspeitos de desvio de equipamentos doados pela Receita Federal à corporação.
O MP apurou que dez notebooks e uma câmera fotográfica foram doados pela Receita, mas não foram encontrados em nenhuma das oito unidades de fiscalização subordinadas a 3.ª Companhia.



