Muitas justificativas e nenhum carro devolvido. Esta é a situação atual das investigações sobre as denúncias contra policiais paraguaios que estariam circulando por Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, com carros brasileiros roubados. O Ministério Público do Paraguai, encarregado das investigações, havia fixado que esta segunda-feira (26) seria o prazo final para a devolução de dez veículos suspeitos que estariam nas mãos dos policiais. Porém, nenhum carro foi apresentado ao MP paraguaio.
Em entrevista à reportagem da Gazeta do Povo, o promotor responsável pelo caso, Carlos Gimenez, afirmou que tanto o chefe da Polícia Nacional do Paraguai, Fidel Isasa, quanto outros policiais envolvidos nas denúncias apresentaram diversas justificativas para não devolverem os veículos. Segundo os policiais, as denúncias não são verídicas, já que os carros seriam apenas "emprestados" de terceiros e não estariam circulando atualmente em Ciudad Del Este, o que tornaria impossível apresentar os veículos nesta segunda.
Nenhuma medida deve ser tomada até o fim da semana, de acordo com o promotor. O MP paraguaio pretende buscar novas informações no decorrer desta semana, e então fixar um novo prazo para entrega dos carros, para que sejam periciados.
Denúncia
Reportagens na imprensa paraguaia denunciavam a prática abusiva por parte dos policiais. As denúncias da imprensa levaram o ministro do Interior, Rogelio Benitez, a afastar quatro chefes da Polícia Nacional do Paraguai na última semana. Conforme informou a Gazeta do Povo deste domingo, os jornais TN Press e ABC Color flagraram policiais circulando com carros Vectra, Astra, Gol, Kadett, Golf, Parati, Celta e caminhonetes de luxo com placas frias ou sem placas nas ruas de Ciudad del Este. Suspeita-se que a maioria dos automóveis tenha sido roubada no Brasil. Alguns veículos tinham vidros escuros e equipamentos de som e vídeo de alto valor.
O MP do Paraguai quer ter acesso aos veículos para poder periciá-los e descobrir os números originais dos chassis, caso sejam realmente roubados. Após a perícia, a promotoria pretende checar a procedência dos carros com as autoridades brasileiras. Existe a suspeita de que haja conivência entre os policiais e os ladrões de carros conhecidos como "cabriteiros". Segundo jornalistas paraguaios, os policiais acabam acobertando a receptação de carros roubados em Ciudad del Este e por sua vez são presenteados pelos "cabriteiros" com veículos, o que fomenta o roubo de carros no lado brasileiro.
Em 2003, reportagem da Gazeta do Povo havia mostrado o envolvimento de policiais civis brasileiros e de paraguaios na receptação de veículos roubados no Brasil. Na ocasião, os acusados exigiam dinheiro para identificar e devolver os veículos furtados.



