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Desenvolvimento

Por que Ponta Grossa estagnou?

Uma das razões para o sufocamento da cidade, ultrapassada por Cascavel em poder de influência, seria a proximidade com Curitiba

Foi a estrada que fez Ponta Grossa surgir como cidade e se desenvolver – primeiro, como rota dos tropeiros, depois com a ferrovia e mais tarde com o asfaltamento das vias rodoviárias. Mas, por ironia, a mesma lógica de facilidade de deslocamento e de acesso acabou tornando o município menos desenvolvido que outros pólos regionais. A principal cidade dos Campos Gerais permanece, portanto, na posição de capital regional de terceiro escalão, com menos poder de influência do que Londrina, Maringá e Cascavel, cuja ascensão foi noticiada ontem pela Gazeta do Povo a partir de números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para os especialistas, os 114 quilômetros de distância entre Ponta Grossa e Curitiba – percorridos em pista dupla – é que frearam as ambições da cidade do interior frente à variedade de opções da capital. Tanto que, diversas tentativas depois, Ponta Grossa ainda não tem vôos comerciais. A rapidez de deslocamento até o aeroporto Afonso Pena, com mais opções de horário, desestimula os passageiros a buscarem as linhas locais. A proximidade com Curitiba também é responsável por fazer de Ponta Grossa um pólo regional de menor importância.

O escritor Miguel Sanches Neto mora em Ponta Grossa há 15 anos e sempre se pega analisando a dependência local em relação a Curitiba, além de observar os aspectos provincianos do comportamento dos moradores. Ele notou algumas mudanças na atitude dos ponta-grossenses, que passaram a trocar experiências com pessoas de outros lugares. "Mas ainda prevalece a idéia da manter a riqueza nas mesmas mãos. São fatores de concentração de renda e de desigualdades. Uma conseqüência é que os serviços, em geral, são mal-remunerados, contribuindo para a pouca circulação de dinheiro", diz.

Assim como Sanches, o arquiteto e urbanista Roque Sponholz defende que apenas uma visão de mundo menos restrita poderia colocar a cidade no rumo certo. Ambos defendem que o primeiro passo seria a construção de um plano suprapartidário de desenvolvimento, sem marcas políticas. "Um diz que a cidade deve ser um pólo petroquímico e começa a fazer buraco. Depois vem outro e decide que a vocação local deve ser o turismo rural. E assim o rumo dos investimentos vai mudando", exemplifica. O caminho seria um projeto como uma obra aberta, mas com diretrizes, em que cada governante apenas colocaria suas tintas. "Precisa ser um plano para a cidade e não apenas para o administrador do momento", comenta Sponholz.

Mais problemas

Proporcionalmente, a cidade com o maior número de favelas no sul do Brasil é Ponta Grossa. São 24 locais com mais de 50 barracos e uma centena de focos de favela, geralmente nas margens dos 151 quilômetros de arroios que cortam o perímetro urbano. Essas pessoas vieram para a cidade, em sua maioria atraídas pela possibilidade de emprego. Mas, mesmo sendo um pólo industrial, o município gera poucos postos de trabalho.

Para a coordenadora do mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Solange Barros, a cidade precisa romper com a cultura assistencialista e passar a ser assistencial, para auxiliar a enorme massa empobrecida. "A partir da Constituição de 1988, o indivíduo não é mais visto como alguém que precisa de caridade, mas como uma pessoa com direitos assistenciais", reforça.

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