
O Paraná é o primeiro estado brasileiro a realizar intervenções de crioplastia, técnica que substitui a angioplastia convencional. Em três meses o cirurgião vascular Marco Antônio Lourenço, do setor de Hemodinâmica do Hospital Santa Casa da Misericórdia de Curitiba, fez o procedimento em três pacientes. Agora, a técnica começou a ser utilizada no Rio de Janeiro. Outros oito especialistas brasileiros também irão estudar sua eficácia.
A angioplastia no gelo como também é chamada foi anunciada por pesquisadores norte-americanos em 2002. Por enquanto está sendo utilizada somente para desobstruir as artérias de membros inferiores (pernas e pés) entupidas principalmente por placas de gordura. A diferença da angioplastia tradicional é que o balão utilizado na desobstrução é preenchido com óxido nitroso. A substância em cerca de 20 segundos congela a placa de gordura e causa a morte das células. O procedimento é feito com anestesia local e dura em torno de uma hora. O paciente não precisa levar pontos e geralmente é liberado no dia seguinte ao da internação.
De acordo com o cirurgião, um dos principais benefícios que crioplastia pode trazer aos pacientes é a redução das chances de que as artérias se obstruam novamente (processo conhecido como reestenose), o que ocorre em 50% dos pacientes submetidos à angioplastia, a cada dois anos. Segundo os resultados da pesquisa norte-americana, o risco caiu para 30% com a adoção da crioplastia. "Com as células vivas, o organismo reage à dilatação provocando um crescimento celular e reestreitamento da artéria novamente", diz.
Meu pé esquerdo
A técnica que está sendo aplicada e pesquisada por Lourenço na Santa Casa ajudou a salvar o pé esquerdo do industrial aposentado Guido Bettega, 72 anos, que possuía uma ferida que só aumentava. Bettega é diabético há 20 anos e acreditava que por isso não havia cicatrização. Mas descobriu que o problema estava na interrupção da circulação de sua coxa esquerda. "O sangue não chegava até meu pé", lembra.
O industrial aposentado foi um dos pacientes a serem submetido à crioplastia. Bettega nunca tinha feito uma angioplastia antes e resolveu ser voluntário à pesquisa pela confiança que possui no médico. "Três dias depois eu já consegui fazer a cirurgia no meu pé e a ferida está praticamente fechada", diz.
O cirurgião vascular ressalta que ainda é cedo para anunciar a eficácia deste procedimento cirúrgico. "Os resultados mais fiéis só vamos ter daqui a dois anos", diz. Mas para o paciente há motivos de sobra para comemorar. "Só o fato de eu ter curado essa ferida já é um sucesso absoluto. Agora tenho 80% do meu fluxo sangüíneo", diz.
Lourenço ainda ressalta que a crioplastia está sendo aplicada em casos bem selecionados. "Geralmente escolhemos pessoas que já foram submetidas à angioplastia tradicional e tiveram um reestreitamento", diz. A arterosclerose (depósito de gordura, cálcio e outros elementos na parede das artérias) é a principal causa de morte no mundo. Seu desenvolvimento é lento e progressivo e é necessário haver uma obstrução arterial significativa para que surjam os primeiros sintomas da doença. Pessoas com mais de 60 anos com problemas de colesterol, diabete, fumo, sedentarismo, hipertensão e obesidade, são mais propensos a desenvolver a doença.



