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A medida anunciada pela Prefeitura de São Paulo nesta segunda-feira (14) de livrar veículos elétricos e híbridos do rodízio municipal vai beneficiar apenas 387 carros. Contudo, o prefeito Fernando Haddad disse que não há projetos para aumentar a área ou o período da restrição veicular na capital.

“Nós estamos incentivando uma política da compra do carro elétrico, isentando o pagamento da quarta parte do IPVA e do rodízio. Se, na esteira do que faz o município, o Estado e a União seguirem o exemplo, nós teremos um ambiente de negócio muito mais favorável para a troca por um veículo sustentável”, disse o prefeito.

A frota estadual desse tipo de veículo é de 2.214 automóveis, enquanto a frota total é de 6,5 milhões.

Por outro lado, ele defende a volta da inspeção veicular ambiental em todo o Estado. “Quando começou a inspeção em São Paulo, a frota continuou crescendo, mas foi licenciada fora do município. Nós ficamos com a fumaça, mas perdemos o IPVA porque a quarta parte do imposto só é recebida quando o carro é licenciado na cidade”, disse.

O prefeito afirmou ainda que a cidade perdeu “uma fortuna de IPVA” e não teve nenhum ganho ambiental durante os cinco anos em que a inspeção vigorou porque os motoristas faziam essa manobra para escapar do teste. Ele disse que uma lei nesse sentido tramita na Assembleia Legislativa há anos e defende que ela seja implantada o quanto antes.

Medida positiva

Para especialistas, liberar os veículos híbridos e elétricos do rodízio é uma medida positiva, porque estimula o uso desses automóveis, menos poluentes. Entretanto, a decisão terá pouco impacto no meio ambiente e no trânsito, pois a frota desses carros é considerada inexpressiva em São Paulo.

“São veículos muito caros, de cerca de R$ 100 mil e não devem chegar a 0,5% do total”, afirma Carlos Alberto Bandeira Guimarães, especialista em transporte e professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp.

O consultor em engenharia de transporte de pessoas Horácio Augusto Figueira concorda. Ele lembra que a medida pode piorar o trânsito a médio prazo. “O carro híbrido ocupa o mesmo espaço do normal. Em algumas décadas, quando essa frota for maior, como vai ficar?”, diz.

Segundo os especialistas, há políticas mais eficazes para reduzir a poluição, como o investimento em transportes de massa e a substituição de ônibus por modelos híbridos ou elétricos. Ele mencionam também a volta da inspeção veicular - suspensa desde o ano passado - que verifica os níveis de emissão de toda a frota da cidade.

“Se ela for feita de forma séria, é muito necessária para o meio ambiente”, diz José Bento Ferreira, especialista em transporte e professor da Engenharia Civil da Unesp.

Alguns estudiosos apontam a isenção de impostos como um meio de fomentar o acesso aos carros híbridos e elétricos. No mês passado, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), concedeu desconto de 50% no IPVA deste tipo de veículo ao abrir mão da parte do imposto destinada ao município.

Mas a ideia não é unanimidade. “Ainda é um carro ocupando espaço e levando pouca gente. Seria interessante dar incentivos fiscais para empresas de transporte substituírem sua frota por híbridos”, diz Figueira.

De luxo

Outra crítica à medida é que ela vai beneficiar apenas motoristas com maior poder aquisitivo, já que os automóveis híbridos e elétricos são caros.

“Assim como os ricos compraram mais carros para poder circular em dias de rodízio, o mesmo vai acontecer com o híbrido. No final, isso tudo aumenta a frota de carros, o que piora o congestionamento”, afirma Figueira.

Segundo ele, ter um carro extra na garagem acaba incentivando um maior uso do automóvel como meio de transporte, mesmo em horários fora do pico.

Rodízio esgotado

Para diminuir a lentidão nas vias, especialistas defendem maiores investimentos em faixas exclusivas e transporte de massa, como metrô e trem. Também é consenso que o modelo atual de rodízio, que vigora desde 1997 no centro expandido de São Paulo, está esgotado.

O especialista em transporte e professor da Unicamp Carlos Alberto Bandeira Guimarães defende medidas mais radicais, como o pedágio urbano e a proibição de carros em determinadas áreas da cidade. Ele ressalta, entretanto, que tais restrições precisam ser acompanhadas de uma oferta de transporte público de qualidade.

No caso de uma ampliação do rodízio, Guimarães sugere aumentar de 20% para 30% a parcela da frota impedida de circular por dia. O especialista acredita que um incremento do número de horas traria muito desconforto e poucos benefícios.

“A grande maioria das pessoas circula nos horários de pico. Pegar um carro tarde da noite, quando já não há muito transporte, não é um problema”, afirma.

Segundo ele, uma expansão das vias interditadas é uma possibilidade. “Mas tem que estar baseada em estudos de lentidão que comprovem essa necessidade”.

Sem rodízio

Já outros especialistas defendem que o rodízio não é eficiente e, por isso, não deve ser ampliado. Segundo um estudo pela CET em 2014, o modelo vigente contribui para uma redução de apenas 6,1% nos congestionamentos e de 3% no volume de veículos, no pico da manhã.

“Eu acabaria com o rodízio. Ele funcionou nos primeiros cinco anos, mas depois as pessoas se adaptaram. Muitos passaram a usar táxi no dia da interdição ou a comprar outros carros, o que não soluciona”, afirma Figueira.

Especialistas apontam que uma restrição mais dura, como reduzir a circulação para apenas 50% da frota (placas pares em um dia e ímpares em outro), pode sobrecarregar o sistema de transporte público, já saturado.

“Primeiro o governo precisa oferecer alternativas viáveis, um transporte público de qualidade, depois pode restringir carros. Caso contrário causaria uma segregação social maior”, diz Ferreira. Ele alerta que um novo modelo de rodízio perderia sua eficácia ainda mais rápido.

“O rodízio sempre se esgota, porque a frota cresce mais do que a malha viária. Um modelo ampliado se esgotaria em apenas um ou dois anos, uma vez que as horas de pico já estão bloqueadas, e essa é a restrição mais eficiente”, diz Ferreira.

Da mesma forma, o pedágio urbano é visto como mais um fator de segregação social por esses especialistas. Segundo eles, se for o valor for muito baixo, a medida será ineficiente, porque todos os motoristas optarão por pagar. Ser o preço for alto, irá fechar as principais vias da cidade para classes mais baixas.

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