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Edifício abrigou o primeiro hospital psiquiátrico de Curitiba. Futuro do prédio será decidido pelo Ippuc | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Edifício abrigou o primeiro hospital psiquiátrico de Curitiba. Futuro do prédio será decidido pelo Ippuc| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Memória

Configuração do prédio traduz os pensamentos de uma época

Segundo o historiador Marcelo Sutil, edifícios como o antigo hospital psiquiátrico guardam em seu interior a memória do que era a própria psiquiatria para a época em que a construção foi feita. "Ele traduz os pensamentos de uma época. Da questão do confinamento, da prisão de doentes mentais. Um hospital psiquiátrico atual terá uma configuração bem diferente desse outro, que foi o primeiro da cidade", afirma.

A arquiteta Maria Beatriz Medeiros Kother explica que o Decreto-Lei 25/1937, que discorre sobre o patrimônio do Brasil, leva em consideração fatores como a importância histórica e a memória para a salvaguarda de certos edifícios. "São muitos os usos para imóveis históricos e os proprietários desses espaços podem ser beneficiados com a escolha da preservação a partir de mecanismos como a redução do IPTU e a venda de potencial construtivo", diz.

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Está nas mãos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) o futuro do edifício que abrigou de 1945 até este ano o Hospital Psiquiátrico Bom Retiro, localizado no bairro de mesmo nome, na Rua Nilo Peçanha. Parte do complexo do hospital começou a ser demolida (janelas e portas foram retiradas) com a autorização da prefeitura. Mas o clamor da população falou mais alto, o que fez com que o município cancelasse o alvará de demolição até que uma comissão avalie se o imóvel deve ser considerado Unidade de Interesse de Preservação – edificação que, por apresentar importância histórica ou arquitetura relevante precisa ser conservada, seja em sua integralidade ou apenas em sua fachada.

Quem decidirá sobre o assunto é o Ippuc e quem homologará a decisão é um conselho formado pelo próprio instituto, com a participação da Fundação Cultural de Curitiba e da Secretaria Municipal de Urbanismo. Calcula-se que no máximo em um mês o martelo seja batido. Por enquanto, a Invespark, nova proprietária do terreno e do imóvel, está proibida de fazer modificações na edificação, sob pena de não obter posteriormente o alvará de construção.

Para os moradores, a decisão reacende a esperança de que a memória do bairro seja preservada. "Ainda não fizemos um abaixo-assinado, mas isso já foi cogitado. Eu assinaria. É patrimônio histórico e não pode ser colocado abaixo assim", afirma o comerciante Francisco Becker.

Proprietário há 25 anos de uma borracharia no Bom Retiro, Edson Oliveira lamenta a falta de preocupação com os imóveis que contam a história de Curitiba. "É claro que o progresso é bom, mas até que ponto? Será que meus netos vão ver o hospital apenas em fotografias?"

A arquiteta especialista em patrimônio histórico Maria Beatriz Medeiros Kother, da Pontifícia Uni­ver­sidade Católica do Rio Grande do Sul, afirma que não são apenas os valores arquitetônicos que devem ser levados em conta na hora de se decidir pelo tombamento. "O movimento da população no sentido da preservação também deve ser considerado e isso é muito significativo", explica.

A Invespark foi procurada para comentar se pretende preservar o edifício, mas a única pessoa que poderia falar sobre o assunto não foi localizada até o fechamento desta edição.

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