O dia em que o Morro do Baú parou
As roupas estão nos varais que ficaram de pé, os carros nas garagens, os móveis dentro da casa. A vida no Morro do Baú, localidade rural de Ilhota, em Santa Catarina, parou na noite de domingo, dia 23. Depois disso, o que se viu foi dor, fuga e destruição, quando os deslizamentos de terra e as cheias do rio atingiram as casas.
Deputado pede investigação sobre gasoduto
"Só para termos uma idéia, levante a mão quem concorda que foi o gasoduto o responsável pelo desastre". O pedido foi feito ontem, durante a reunião do governador Luiz Henrique da Silveira com moradores do Morro do Baú, pela presidente da Associação dos Bananicultores do município de Ilhota, Tatiana Reichert. Todos levantaram a mão.
Mortes chegam a 122 e buscas continuam
Dois óbitos por soterramento ocorrido há uma semana em Gaspar aumentaram o número de mortos por causa da chuva em Santa Catarina para 122. Os nomes das vítimas não foram divulgados. Como os bombeiros continuam realizando buscas por corpos, os registros de óbitos podem crescer. Vinte e nove desaparecidos estão confirmados no estado pela Defesa Civil.
Ilhota - Enquanto geólogos não dão uma resposta se a região mais crítica de Santa Catarina, o Morro do Baú, na área rural de Ilhota, pode voltar a ser ocupada, governo do estado, prefeitura e moradores dizem estar de braços atados. Produtores rurais reclamam que não podem retomar a produção e estimam um prejuízo provocado pela chuva de R$ 42 milhões com a produção de arroz e banana. O valor é quase três vezes maior que o orçamento de Ilhota para 2009 (R$ 15,8 milhões).
A necessidade de uma resposta foi o tema principal da reunião do governador Luiz Henrique da Silveira com moradores desabrigados do Morro do Baú, realizada ontem. "A liberação tem que ser feita logo, para o sim ou para o não. Não podemos ficar um mês esperando", disse o governador. Máquinas da Secretaria de Estado da Agricultura do Paraná foram postas à disposição dos moradores do Morro do Baú, mas tiveram de ser enviadas para outros municípios devido à falta de uma posição dos geólogos.
Em Ilhota, 70% da área produtiva de banana e arroz foi perdida, o que equivale a 2,7 mil hectares da cultura do arroz e 540 hectares de banana, segundo levantamento das Cooperativas de crédito rural com interação solidária (Cresol). O setor agropecuário representa 22% do valor adicionado de ICMS no município. "Mas não podemos ir além do que os técnicos nos permitem. As pessoas cobram acesso, mas seria o mesmo que abrir uma ratoeira", afirma o secretário municipal da agricultura e meio ambiente, Almir César Paul.
A presidente da Associação dos Bananicultores do município de Ilhota, Tatiana Reichert, pediu urgência na resposta para liberação das áreas. Os rizicultores solicitaram a anistia do custeio da safra de 2008 e 2009 e créditos especiais para subsistência e para restabelecimento da propriedade. O governador confirmou que a Secretaria Estadual de Agricultura dará o crédito especial a fundo perdido para a subsistência dos produtores. Já o pedido de pagamento de dívidas de investimento em 20 anos será repassado ao governo federal. Ficou acertada nova reunião para hoje, às 14 horas.
Em análise
A Coordenadoria Geral de Operações Aéreas da Defesa Civil, o Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina, a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica e os Institutos de Pesquisas Tecnológicas e Geológico, estão analisando a liberação parcial e gradativa das áreas de risco, localizadas no complexo do Baú. A Defesa Civil diz que os locais serão avaliados conforme condições de solo e de tempo para possível liberação. Em caso de chuva, a operação pode ser suspensa nessas regiões.
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