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Câncer de mama

Prevenção genética sai mais barato

SUS não oferta exame que detecta probabilidade de mulher desenvolver tumor. Tratamento da doença custa mais caro do que o teste de DNA

A mastologista Marília Takimoto diz que seria bom o SUS ofertar o teste, mas primeiro precisa resolver a falta de mamógrafos e a má distribuição dos aparelhos | Christian Rizzi / Gazeta do Povo
A mastologista Marília Takimoto diz que seria bom o SUS ofertar o teste, mas primeiro precisa resolver a falta de mamógrafos e a má distribuição dos aparelhos (Foto: Christian Rizzi / Gazeta do Povo)

A oferta do exame de sequenciamento genético no Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes com alto risco de câncer poderia contribuir para prevenir a doença e reduzir custos decorrentes do tratamento. No entanto, a rede pública não oferece o teste e tampouco dispõe de estrutura e laboratórios especializados para fazer o mapeamento.

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O assunto ganhou repercussão após a atriz Angelina Jolie ter se submetido a uma adenomastectomia – retirada das mamas como prevenção ao câncer. O teste genético revelou que ela tinha um risco de 87% de desenvolver câncer da mama e de 50% de ter um tumor nos ovários. Desde então, clínicas médicas e hospitais de todo o país receberam uma avalanche de pacientes em busca de informações sobre o exame e a cirurgia preventiva.

Para os médicos, a oferta do exame genético pelo SUS significaria uma redução nos custos com tratamento. "Há estudos que mostram que arcar com os testes genéticos é muito mais eficaz que arcar com os tratamentos de câncer. Hoje um paciente com câncer não custa menos de R$ 500 mil ao sistema de saúde, porque é preciso fazer cirurgia, internações, exames, quimioterapia, radioterapia e cuidados paliativos", diz o médico oncogeneticista do Hospital Erasto Gaertner José Claúdio Casali da Rocha. Hoje, segundo ele, o exame feito pela atriz custa cerca de R$ 4 mil.

Na rede privada, a obrigatoriedade de os convênios pagarem o teste genético só começou a valer no ano passado, a partir da Resolução Normativa n.º 262. No entanto, o procedimento só é válido se for solicitado por um geneticista e nem todos os planos fazem a cobertura.

Cautela

Os médicos recomendam cautela às mulheres que pensam em fazer o teste e a cirurgia porque a mutação encontrada em Jolie atinge menos de 1% da população. As pacientes com indicação para fazer o acompanhamento genético e a adenomastectomia precisam se enquadrar no grupo de alto risco.

O médico do Setor de Gi­necologia e Mama do Hospital Erasto Gaertner, Sérgio Hatshbach, diz que o fato de o procedimento não estar disponível no SUS não é preocupante, porque existem outras formas de monitorar e prevenir o câncer, como a mamografia e a ecografia. "Se você fizer as consultas e exames pode controlar perfeitamente sem o teste de sequenciamento genético."

A mastologista Marília Takimoto, de Foz do Iguaçu, ressalta a importância da prevenção. Ela diz que apesar das campanhas, muitas mulheres ainda chegam aos consultórios com tumores em estado avançado. "Para a população que não é paciente de risco rastreamos a doença pela mamografia", explica.

Paranaense fez o teste de graça na Inglaterra

Na Inglaterra, o teste de DNA é oferecido pela rede pública de saúde. Foi lá que a paranaense Cristiane Lourenço, 30 anos, descobriu ter uma anomalia no gene BRCA1, o mesmo da atriz Angelina Jolie. O exame foi feito por orientação dos médicos após a mãe de Cristiane ter enfrentado dois cânceres. O primeiro, aos 32 anos, em uma das mamas. Na época, Cristiane tinha 10 anos. Após fazer o tratamento e superar a doença, a mãe dela foi acometida pelo câncer novamente, na outra mama, em 2009.

Em 2011, Cristiane foi morar na Inglaterra por questões profissionais – ela trabalha com sustentabilidade em uma multinacional em São Paulo. Em Londres, fez o cadastro na unidade de saúde do bairro – um serviço similar ao prestado pelos médicos da família no Brasil – e recebeu uma série de recomendações para prevenção do câncer. Também soube que o teste de DNA, para quem tinha câncer na família, era gratuito e resolveu fazer. "Minha médica falava: pense em 50% que você tem e 50% que você não têm. Assim você vai ficar mais preparada para a notícia. Mesmo assim, foi um baque grande", conta.

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