
O programa de combate a drogas baseado em denúncias anônimas da população completa quatro anos no Paraná. Desde junho de 2003, segundo dados do governo do estado, mais de 15 mil pessoas foram presas sob acusação de tráfico de entorpecentes. Um número alto e que representa um recorde no combate à venda de drogas ilegais. No entanto, depois de 48 meses e milhares de apreensões, continua sendo fácil encontrar entorpecentes e milhares de jovens continuam se viciando em crack, maconha e cocaína. O que leva a uma pergunta fundamental sobre o tema: será que é impossível derrotar a droga?
Os coordenadores do projeto do Narcodenúncia dizem que há provas de que o combate aos traficantes vem reduzindo a oferta de drogas em alguns bairros. "Está ficando mais comum a briga entre traficantes", afirma o tenente-coronel Costa, criador do Narcodenúncia. "Isso quer dizer que eles estão tendo dificuldade para continuar o negócio e ficam sem ter como pagar suas dívidas com os fornecedores", comenta o coronel.
No entanto, mesmo em pontos onde a polícia e toda a população sabem que são vendidas drogas, o tráfico continua sendo realizado à vista da população. Em Curitiba, por exemplo, continua sendo possível comprar drogas em lugares como a Rua Trindade, a Cruz Machado e o Largo da Ordem. Algum tempo atrás, o médico Dráuzio Varela causou algum barulho ao dizer que apenas a conivência da polícia permitia ao tráfico permanecer em pontos onde todo mundo já sabe que é possível comprar drogas. No entanto, a polícia jura que não é esse o caso.
"Em uma corporação grande como a nossa, nunca é possível garantir que não haja algum agente conivente, mas isso é a exceção", garante Costa. Segundo ele, a dificuldade em acabar com o tráfico mesmo onde se sabe fartamente de sua existência vem de outros fatores. Primeiro, da dificuldade de caracterizar o tráfico. "O sujeito que vende nesses pontos anda com pouca droga e pouco dinheiro. E fica difícil provar que ele é traficante e não usuário", afirma o coronel. Ele afirma que há pessoas que foram presas dezenas de vezes e acabam sendo soltas repetidamente por problema como a materialidade das drogas.
Quem está na outra ponta da situação confirma que a polícia tem feito a sua parte. "Sempre que a gente chama, eles vêm rapidamente", conta Vilma Cristina Lourenço, coordenadora do Conselho de Segurança da Caximba, no Sul de Curitiba. Mesmo assim, segundo ela, locais tradicionais de venda no bairro, como a "Sapolândia", continuam funcionando. O depoimento dela ecoa o de outros presidentes de conselhos de segurança espalhados pela capital. "A polícia vem, prende, mas continua existindo o tráfico nas vilas em torno", afirma Cirio Gomes Ferreira, do conselho do conjunto Vitória Régia, na Cidade Industrial de Curitiba.
Enxugar gelo
Para especialistas no tema, a opção do governo por criar um programa que combate especificamente o pequeno traficante, que pode ser visto na rua com o produto, pode ser pouco produtiva. "É um pouco como enxugar gelo", afirma o coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná, Pedro Bodê. Segundo ele, a repressão na ponta é importante para situações emergenciais. Mas não é isso que vai resolver o problema.
"Nós temos que mudar o pensamento do combate às drogas. Só a repressão não resolve. É preciso fazer uma discussão mais ampla e cuidar da educação", afirma. Segundo ele, quando se prende uma pessoa, logo aparece outra para substituí-la, interessada no dinheiro que o tráfico traz. Mais importante do que prender, portanto, seria educar os jovens para que não consumissem drogas e dar oportunidade de emprego para todos, evitando a tentação do dinheiro vindo do crime.
A própria polícia concorda. "Cobram muito da PM. Mas a verdade é que quando nós temos que entrar em ação é porque todo o resto da sociedade já falhou. A família, a escola, a sociedade deveriam impedir que a situação virasse um caso de polícia", afirma o tenente-coronel Costa.



