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Saúde

Problema social, drama familiar

Caso de ex-modelo que foi viver nas ruas por causa da dependência química evidencia dificuldade de famílias para convencer usuários a se tratar

Brasil tem cerca de 1,4 milhão de usuários crônicos de drogas | Yasuyoshi Chiba/AFP
Brasil tem cerca de 1,4 milhão de usuários crônicos de drogas (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)

O drama familiar do ex-modelo que virou morador de rua Rafael Nunes da Silva, 31 anos, cuja foto percorreu a internet nos últimos dias, se repete nos lares de pelo menos 1,4 milhão de pessoas no país. Esse é o número estimado de usuários de drogas que se reconhecem como dependentes, de acordo com o 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, produzido pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Morador de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, Rafael adotou as praças e vielas de Curitiba como lar após se perder no mundo do crack. As tentativas dos pais e das duas irmãs em convencê-lo a buscar tratamento, até o momento, foram infrutíferas. A frustração que envolve a família do rapaz reflete uma situação comum vivida por parentes de viciados em drogas.

Cerca de 70% dos usuários crônicos de drogas afirmam não ter a intenção de interromper o uso da substância e somente 1% chegou a procurar tratamento, de acordo com a pesquisa da Unifesp. "O crack é uma droga com um potencial de dependência avassalador. Assim como o Rafael, há vários outros moradores de rua com olhos azuis em Curitiba, justamente porque essa droga passou a atingir diferentes classes sociais", relata a psicóloga Adriane Wollmann, do Consultório de Rua de Curitiba, da Secretaria Municipal de Saúde.

A prefeitura informa que fornece a estrutura necessária para tratamento da dependência, principalmente por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) – há 12 na cidade – e da unidade de saúde da Fundação de Ação Social (FAS), mas defende que o abandono das drogas passa, necessariamente, pelo interesse do próprio dependente e da família em buscar ajuda.

As boas intenções dos familiares, porém, esbarram na falta de discernimento do usuário, muitas vezes alheio à própria condição de dependente químico. "Uma das coisas que a droga faz é nublar a capacidade de julgamento, de autocrítica do usuário. Dizer para uma pessoa que está intoxicada pelo uso que ela precisa se tratar é mais ou menos como pregar no deserto. Essa pessoa não está nem em condições de entender esse pedido", afirma o psiquiatra e gerente médico da Unidade Intermediária de Crise e Apoio à Vida (Uniica), Élio Luiz Mauer.

Estrutura

Na rede pública, o primeiro passo para as famílias de usuários ainda é buscar atendimento nas unidades básicas de saúde, responsáveis por iniciar um processo de "convencimento" do dependente e encaminhá-lo para os Caps ou, em casos extremos, para a internação em hospitais. Atualmente, a capital oferece 428 leitos psiquiátricos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), utilizados para atender a transtornos mentais de maneira geral. Em todo o Paraná, são 2.628.

O governo do estado não divulga números da demanda, mas há consenso de que o número atual é insuficiente. A previsão é que, nos próximos dois anos, sejam criados mais 828 leitos psiquiátricos, por meio de recursos federais do Plano Nacional de Combate ao Crack.

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