
Embora tenha crescido em cerca de 70% o número de bolsas para mestrado e doutorado no país entre 2007 e 2009, não houve avanço nos filtros para evitar plágios e fraudes nas pesquisas e nos artigos produzidos por cientistas brasileiros. Mesmo com o aumento da produção científica, não há um controle dos trabalhos, o que deixa brechas para a ocorrência de plágios. As punições, nesses casos, são previstas pelas instituições, geralmente variando de advertências a expulsões. Os dados de 2010 não foram consolidados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Em 2011, duas situações mostraram a necessidade de maior controle das universidades e de acompanhamento do governo federal, no caso dos bolsistas. No fim de março, um químico do mais elevado grau de conceituação pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi acusado de fraudar onze estudos científicos (leia mais nesta página). Em fevereiro, a Universidade de São Paulo (USP) demitiu um professor da instituição, acusado de copiar imagens de trabalhos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi a primeira exoneração por esse motivo em 15 anos.
Plágios e fraudes adquirem status de tabu entre as universidades do país e nenhuma das três paranaenses consultadas Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) diz conhecer casos de fraude em estudos científicos sob sua responsabilidade. Mesmo que a prática seja mais corriqueira na graduação, os plágios já preocupam em mestrados e doutorados. "Plágio é inadmissível e é ilegal, crime contra a propriedade intelectual. Deve ser coibida", defende Sergio Scheer, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UFPR.
Em uma tentativa de auxiliar as instituições, a Capes divulgou um documento com orientações, indicando a criação de comissões internas para averiguar a gravidade dos casos envolvendo plágios e fraudes. O pró-reitor de Pesquisa e Graduação da UTFPR, Luiz Nacamura Júnior, diz que é preciso orientar antes de punir. "Deve haver consciência do que é estudo bibliográfico. Se não é feito no nível inferior, deve ser feito em graus mais elevados da educação", relata. Para Maria Antonia P. C. Celligoi, diretora de pós-graduação da UEL, na avaliação dos trabalhos deve constar o controle de plágios. "A banca também é responsável por coibir", afirma.
Há unanimidade nas universidades sobre a maior facilidade em encontrar plágios do que fraudes. Certos softwares conseguem comparar projetos com um banco de dados de pesquisa, indicando a possibilidade de cópia dos textos já existentes. "Forjar resultados é mais complicado quando há o acompanhamento adequado do trabalho", opina Nacamura Júnior. "Mas, quando o assunto é inédito, é difícil descobrir se existe fraude", revela Maria Antonia.
Qualificação
Uma universidade consegue subir na avaliação da Capes caso aumente suas publicações científicas, um dos critérios levados em conta para definir a qualidade da instituição. "Basicamente, há indicadores de produção científica em periódicos de classificação importante. Em geral, olha-se os últimos cinco anos para ter conhecimento da produção", afirma Sergio Scheer, da UFPR. Esse parâmetro é levado em conta pelo Ministério da Educação (MEC), assim como o número de docentes doutores e mestres.
As três instituições, contudo, prometem empenho a fim de não mascarar dados com projetos e pesquisas fraudadas ou plagiadas. Um problema desse porte é prejudicial à imagem da instituição. "Sempre levanta a suspeição se os demais trabalhos foram realizados de forma ética", diz Scheer.




