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Planejamento

Profissionais “turbinam” ações do terceiro setor

Apesar de o fim de ano renovar a preocupação com a captação de recursos, algumas entidades já têm sustentabilidade financeira

Ety Cristina Forte Carneiro, do Hospital Pequeno Príncipe: ação profissional para financiar os 300 mil atendimentos anuais | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Ety Cristina Forte Carneiro, do Hospital Pequeno Príncipe: ação profissional para financiar os 300 mil atendimentos anuais (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

O fim do ano é um período de apreensão para organizações do terceiro setor, já que nesta época muitos projetos são encerrados e o desafio da captação de recursos ressurge. Para fechar as contas "no azul", muitas instituições fazem jantares, bazares beneficentes e investem em publicidade para obter doações por meio do imposto de renda. Aos poucos o setor está se profissionalizando e a sustentabilidade financeira já é um horizonte possível para grande parte das ONGs.

Durante a década de 70 e 80, as organizações do terceiro setor brasileiro receberam auxílio de entidades financiadoras estrangeiras. A realidade econômica do país era diferente da atual e não existiam muitas alternativas nacionais para a captação de recursos. Gerente de programas do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) – grupo que reúne os maiores investidores sociais do país –, André Degenszajn explica que houve financiamento externo principalmente para ONGs que atuavam com a defesa de direitos humanos e democracia, em função da ditadura militar vivida no Brasil.

Com o processo de redemocratização e melhoria nos indicadores econômicos, muitos órgãos financiadores passaram a atuar no continente africano, com projetos de combate à pobreza e acesso à saúde. O entendimento era de que as ONGs brasileiras poderiam atingir a sustentabilidade financeira com parcerias dentro do próprio país. A partir dos anos 90 começa um movimento para efetivar o investimento privado nacional, como o surgimento do Gife em 1995, por exemplo.

Heterogêneo

Degenszajn explica que o terceiro setor não é homogêneo e congrega a existência de grandes fundações com patrimônio e recursos próprios até pequenas entidades com orçamento limitado e trabalho voluntário. Ele conta que as instituições que dependiam exclusivamente de financiamento externo foram as que mais sofreram na última década.

O Gife investiu em 2010 R$ 2 bilhões, mas apenas 20% de todo este recurso foi destinado para a doação. "Ainda há baixa tradição de doação por parte do setor privado. Há uma lacuna de financiamento que não é totalmente preenchida por investidores sociais nacionais", afirma De­­­genszajn.

As alternativas para a sustentabilidade financeira passam desde a criação de grupos de doadores individuais até a geração de recursos por meio de produtos ou serviços ofertados. O Greenpeace, que não aceita doações de empresas e governos, consegue sobreviver com doações individuais regulares.

Profissionalização

Coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre o Terceiro Setor da Universidade Federal do Paraná, Ana Lucia Jansen de Mello de Santana afirma que deve haver uma mudança de paradigma nas instituições do terceiro setor em relação à sustentabilidade financeira. A figura do captador de recursos, que aparece "profissionalizada" nos anos 2000, precisa ser estendida a todas as instituições. "Com capacitação e foco, esse profissional adquire credibilidade com o apoiador, cativando-o para novas doações", diz Ana Lúcia.

Após dez anos, hospital recebe 86 vezes mais

Em Curitiba, o Hospital Pequeno Príncipe tem mais de 90 anos de história e conquistou muitas vitórias neste tempo, mas foi somente em 2000 que a entidade passou por uma reformulação e conseguiu se tornar um dos grandes casos de sucesso do terceiro setor brasileiro. O maior indicador dos bons resultados é a verba arrecadada com captação de recursos. Há dez anos a média era de R$ 174 mil anuais. A expectativa é que 2011 termine com R$ 15 milhões.

Em 2000, o hospital se preparava para a realização de um dos maiores congressos de pediatria do país e precisava contatar patrocinadores para o evento. Ety Cristina Forte Carneiro, filha da fundadora da Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro – mantenedora do Pequeno Príncipe –, foi chamada para ajudar. "Na hora percebi que as pessoas viam o hospital como uma referência, mas não sabiam sobre a complexidade do atendimento e nem que não visamos lucro", diz Ety Cristina. A partir deste momento, ela iniciou um trabalho de relacionamento com a comunidade para difundir as boas ações da instituição.

A reestruturação focou na elaboração de projetos para diversos grupos de relacionamento do hospital. Com a diversificação, aumentaram as fontes de financiamento, de doações continuadas de pessoas físicas a doações únicas, passando por doações de empresas e relacionamento com o poder público para a elaboração de emendas ao orçamento.

O desafio para o Pequeno Príncipe ainda é grande, já que 70% dos atendimentos são feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que gera uma defasagem de 40% no orçamento de cerca de R$ 85 milhões anuais. O hospital faz 300 mil atendimentos ambulatoriais por ano, 26 mil internações e 13 mil cirurgias. Ety Cristina faz questão de ressaltar que as crianças atendidas pelo SUS recebem os mesmos procedimentos que uma criança atendida pelo plano de saúde. Com o dinheiro obtido pelas doações, a entidade conseguiu construir um prédio e mobiliar quatro andares, além de oferecer tratamento humanizado para os pequenos pacientes, que têm atividades escolares e culturais no hospital.

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