
Iranildo Pinheiro Gomes, 41 anos, aparece na porta ainda com os olhos inchados. São 13 horas de uma segunda-feira e ele acabou de acordar. O auxiliar de enfermagem trabalha à noite e cuida da casa durante o dia, enquanto a mulher, Lucilene Gomes, 39 anos, trabalha em uma fábrica de confecções como costureira e os três filhos estudam.
A família dele, assim como outras 66, é amparada pelo projeto "Restauração do Vínculo Familiar e Conquista da Casa Própria", do Núcleo Social Papa João XXIII, de Maringá. Durante cinco anos, as famílias vivem em casas custeadas pela entidade e poupam o dinheiro que gastariam com o aluguel para, finalmente, conseguir a casa própria.
O funcionamento é simples, porém rígido, explica a Irmã Virginia, uma das responsáveis pelo órgão, que ao longo de mais de 30 anos já atendeu cerca de 800 famílias. Para fazer parte é necessário ter baixa renda, ter filhos e provar segundo ela, não com papéis, mas com "o coração" que a pessoa tem desejo de comprar um imóvel para criar a família. Todos passam por uma triagem e, após serem escolhidos, os membros passam a viver em uma das 67 casas do projeto.
Mensalmente, a partir daí, ficam responsáveis por depositar, no mínimo, R$ 440 em uma poupança, administrada pelo núcleo, que assegurará o valor de entrada para a compra do terreno, casa ou apartamento. As famílias arcam somente com a conta de água e luz. Em alguns casos, a entidade também colabora com cestas básicas.
Ao fim do período de cinco anos é necessário entregar a residência para outra família. "Fazemos um trabalho de conscientização para que eles consigam conquistar o pedacinho deles. Esse é o único pagamento para o meu coração", diz a Irmã.
Ela observa que não se trata de assistencialismo, mas uma oportunidade oferecida para empreitar, de acordo com ela, o maior sonho que um pai e uma mãe podem ter: um teto para oferecer aos filhos. Por isso, é cobrado que todos trabalhem e poupem, além do valor depositado na conta, o máximo que conseguirem. "Eles têm de sonhar grande. Com uma casa bonita, confortável, uma verdadeira mansão."
As casas ficam uma ao lado da outra, tomando conta de oito quadras, em um bairro tranquilo. Além da moradia, o Núcleo oferece escolas profissionalizantes, com cursos de cabeleireiro, manicure, corte e costura, artesanato e marcenaria. Para as crianças há aulas de coral, capoeira, violão e, em breve, informática.
Saindo do aluguel
Gomes conta que sua vida mudou quando passou a integrar o Núcleo. Natural de Fortaleza, no Ceará, Gomes diz ter passado muitas dificuldades quando tinha de alimentar a família e pagar o aluguel de R$ 700. O dinheiro agora vai direto para a poupança. O único dilema, segundo ele, é decidir se fica em Maringá ou se volta para a terra natal. "Gosto muito daqui, é uma cidade boa. E nunca vi algo parecido com esse projeto. Mudou nossas vidas."



