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A Hidrelétrica de Mauá, prevista para ser construída no Rio Tibagi, entre os municípios de Telêmaco Borba e Ortigueira, ameaça alagar 5,5% de uma área com altíssima biodiversidade no Paraná. Cientistas e ambientalistas paranaenses denunciam que o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) do projeto, elaborado pela empresa CNEC, de São Paulo, contêm falhas técnicas e omissões a respeito da importância biológica da área a ser alagada. O EIA-Rima é um documento exigido pelas autoridades – no caso, o Instituto Ambiental do Paraná – para que a viabilidade ambiental do empreendimento possa ser avaliada e a obra, autorizada.

A Hidrelétrica de Mauá está entre as elencadas como prioritárias pelo governo federal para garantir que o abastecimento de energia continue normal. O estudo de impacto ambiental da obra foi feito pela CNEC, que terá seus custos ressarcidos pela empresa que vencer o leilão para a construção da usina, caso ele seja realizado.

Extinção

"Sem dúvida alguma é a área mais rica em biodiversidade do Paraná", diz o biólogo e coordenador institucional da Liga Ambiental, Tom Grando. A Liga Ambiental encomendou um estudo que mostra que naquela região da Bacia do Rio Tibagi há 747 espécies de animais. É quase a mesma quantidade de espécies existentes na floresta atlântica, na Serra do Mar – um ecossistema que ocupa uma área seis vezes maior do que a região do Tibagi (veja infográfico).

Grando afirma que aquele trecho da bacia do Tibagi é marcado pelo encontro de diversos ecossistemas paranaenses, como os campos, o cerrado, a floresta com araucárias e a mata com perobas. Por isso, em uma área relativamente pequena, ocorre o que os cientistas chamam de megabiodiversidade. "A gente tem nesse pequeno trecho um estoque dos ecossistemas que sumiram no Paraná." Na área vivem espécies ameaçadas de extinção no estado, como o tamanduá-bandeira e o lobo-guará, por exemplo, e outras que só existem naquela região, como a perereca Hyla anceps, diz Grando.

Segundo o ambientalista, um dos problemas do EIA-Rima é justamente a omissão em detalhar que a obra poderia causar a extinção de espécies como a Hyla anceps. Grando afirma que o estudo apenas traz uma lista dos animais existentes na região a ser alagada, sem tecer comentários mais aprofundados sobre eles.

"Ficamos indignados (com o EIA-Rima)", diz a zoóloga Sirlei Bennemann, pesquisadora de fauna aquática da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ela faz parte de uma equipe da UEL que analisaram o estudo de impacto ambiental da CNEC. Segundo Sirlei, o EIA-Rima, na descrição dos impactos da hidrelétrica sobre os peixes do Tibagi, utilizou pesquisas da UEL de forma parcial e com erros de interpretação.

A zoóloga ainda vê outra falha grave no documento no que diz respeito aos impactos que a barragem pode trazer para os peixes da bacia. O estudo foi feito usando dados dos afluentes da margem esquerda do Tibagi – mais degradados do que os da direita. Desse modo, o relatório indica que poucas espécies seriam impactadas. Mas, na verdade, afirma Sirlei, a construção da barragem ameaça a reprodução de diversas espécies de cascudo, de pintados, dourados e surubins. Segundo ela, essas espécies são de correnteza. Com o represamento do rio, ficarão impedidas de fazer a piracema. "Eles (os peixes) vão desaparecer." Algumas dessas espécies, como o pintado e o surubim, podem desaparecer do estado, pois o Tibagi é o último refúgio deles no Paraná.

Na área da fauna, o EIA-Rima também é criticado pelos cientistas. "O estudo é muito fraco. Já avaliei vários estudos de impacto ambiental. Esse é o pior", diz o botânico José Marcelo Torezan, da UEL. Segundo ele, o EIA-Rima não traz sequer uma relação completa de quais espécies vegetais existem na área a ser alagada. Ele também condena a escolha do Tibagi para a construção da usina. "Se alguém me perguntasse qual é a pior área do Paraná para construir uma hidrelétrica, eu diria que é aquela."

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