
A campanha de tevê da rede de lingeries Hope provocou diferentes reações nesta semana ao mostrar a top model Gisele Bündchen usando da sensualidade para acalmar a ira do marido diante de notícias negativas, como o estouro do cartão de crédito e uma batida de carro. Alguns grupos e até mesmo a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) consideraram a peça publicitária desrespeitosa à condição feminina e 15 reclamações de consumidores foram feitas ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que abriu um processo para investigar se a propaganda é ofensiva ou não. Outros acham que essa "onda" do politicamente correto cerceia a liberdade de expressão artística.A psicóloga e pesquisadora Lidia Weber acredita que a frase final da propaganda ("Você é brasileira, use seu charme"). não passa a mensagem correta. "Mostra aquele lado do jeitinho brasileiro, de tirar vantagem de tudo", diz, antes de completar. "Já não estamos mais nesse papel de mulher submissa, que engana o marido usando a sexualidade. Apesar das mulheres terem muitas coisas a conseguir, nenhuma gosta de ser dependente".
O professor de Direito Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da comissão de Liberdade de Expressão da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rodrigo Xavier Leonardo, considera a sensualidade apresentada uma forma de humor. "Parece-me inadequado atribuir a essa peça a qualificação de abusiva ou discriminatória, pois não vejo que coloca a mulher em uma situação de desvantagem. A arte e o humor se fazem por intermédio de situações exageradas", opina.
Caminho perigoso
O professor de branding da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Julio Moreira considera que a censura não é a forma certa de combater a publicidade. "A censura é um caminho perigoso. O processo natural é que as pessoas que se sentem ofendidas pelo anúncio boicotem a empresa e não comprem mais nada dela". Para ele, o que mais assusta no caso é o pedido de a avaliação da propaganda ter surgido em um órgão do governo. "Parece que querem tutelar a inteligência dos consumidores. No fim, esses processos amplificam a mensagem e criam uma repercussão espontânea", afirma
A professora do curso de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Valquíria Renk, apesar de contrária à censura, acredita que a propaganda pode reforçar estereótipos vinculados à mulher. "Essa reprodução reforça algumas situações, como a que a mulher tem que usar seu charme, esse jogo de sedução, para conseguir o que quer. A situação da mulher mudou, agora ela pensa e define questões", diz.



