
Pesquisadores da Universidade Ludwig-Maximilians e do Instituto de Psiquiatria Max Planck, ambos em Munique, na Alemanha, encontraram uma proteína que indica se o tratamento contra a depressão será bem-sucedido ou não, antes mesmo de ele ser iniciado. A descoberta vem com a promessa de facilitar o combate contra o distúrbio, maior causa de incapacidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, aproximadamente 40% dos pacientes com depressão não têm resposta alguma à medicação e sofrem com efeitos colaterais.
Veja detalhes sobre o distúrbio no Brasil
Recentemente publicado no renomado periódico Translational Psychiatry, o estudo contou com a participação do biólogo brasileiro Daniel Martins-de-Souza, que, após passar pelos institutos alemães e pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, volta ao Brasil para instalar o primeiro laboratório de neuroproteômica da América Latina na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. O nome dessa área da ciência, aparentemente complicado, refere-se ao estudo detalhado das proteínas que formam o sistema nervoso.
Sinalizador
A substância encontrada pelos cientistas na Alemanha foi o fibrinogênio alfa, uma proteína do sangue envolvida na resposta do organismo a processos inflamatórios, infecções e traumas. Sabe-se há algum tempo que os sintomas de inflamação se elevam em pessoas depressivas, mesmo que não haja outros problemas de saúde que causem tal reação.
Se estiver presente em altas quantidades, a proteína indica que qualquer medicamento não surtirá efeito. "Não conseguimos saber o porquê, mas especulamos que as pessoas que não respondem à medicação podem ter um processo inflamatório mais intenso do que as pessoas que respondem, dificultando a ação do antidepressivo", explica Martins-de-Souza.
No futuro, pacientes com alta quantidade da proteína podem ser submetidos primeiro a medicamentos que reduzam os níveis de fibrinogênio alfa antes de se submeter ao tratamento convencional para a depressão. O resultado, um importante avanço na compreensão da doença, foi obtido por meio da análise de sangue de 41 pacientes com depressão. A partir das amostras, os pesquisadores analisaram as moléculas por meio da espectrometria de massas, uma técnica largamente usada para identificar as diferentes moléculas que compõem uma substância.
Doença é uma das principais causas de afastamento do trabalho
Em conjunto com outros transtornos mentais e comportamentais, a depressão esteve entre as dez causas mais frequentes de afastamento do trabalho em 2013, sendo responsável por 80.504 afastamentos. Os dados são do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e consideram os números de auxílios acidentários (quando a depressão decorre de atividade do trabalho) e de auxílios previdenciários (se a doença não tem relação com a atividade). Só no Paraná, no ano passado, foram concedidos 4.961 auxílios relacionados à depressão.
A advogada Melissa Folmann, presidente da Comissão de Direito Previdenciário da OAB-PR e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), afirma que, se a depressão foi adquirida em função de uma atividade do trabalho, a doença é considerada um acidente de trabalho e o trabalhador pode requisitar auxílio-doença. "O tempo de recebimento do benefício varia de laudo para laudo, mas, enquanto durar, a pessoa fica por conta do INSS e, depois de receber alta, tem estabilidade de 12 meses no emprego", esclarece Folmann.
Caso o perito negue o pedido de auxílio-doença ao INSS, a advogada indica que o profissional com depressão causada pelo trabalho entre com ação no Fórum Cível da Justiça Estadual. Se o transtorno mental não for causado pelo trabalho, indica-se que o trabalhador entre com um processo na Justiça Federal.
Em ambas as instâncias, a grande dificuldade está em provar que se está com o distúrbio e saber diferenciar entre estar doente ou incapacitado. Nas decisões judiciais, levam-se em conta os seguintes fatores para se chegar a uma decisão: efeitos colaterais que o remédio causa na pessoa, profissão, idade, grau de escolaridade e núcleo social.
Você já passou por tratamento contra a depressão? Como foi a sua adaptação aos medicamentos? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.



