A febre da chamada "pulseira do equilíbrio", vista no pulso de famosos como os jogadores de futebol David Beckham e Cristiano Ronaldo e do piloto Rubens Barrichello, pode estar com os dias contados. A fabricante Power Balance, empresa cuja sede é nos Estados Unidos, foi obrigada, na Austrália, a desmentir publicamente os supostos efeitos terapêuticos e garantir o reembolso de consumidores que se sentiram lesados pela propaganda enganosa.
A Power Balance afirma que os hologramas da pulseira, que custam cerca de R$ 100 (há produtos similares na faixa de R$ 30 a R$ 60), melhoram o fluxo de energia do corpo, aumentando a força, o equilíbrio e a flexibilidade. No Brasil, o uso ficou bastante popular, principalmente entre praticantes de esportes e profissionais da área. Porém, não há nenhum estudo científico confirmando os benefícios. "Não há comprovação de que funcione. Nós, da classe médica, só acreditamos em um produto quando é embasado em um trabalho científico, realizado em universidades sérias", diz o ortopedista especialista em medicina esportiva e chefe médico do Coritiba, Lúcio Ernlund.
Ernlund critica o fato de o objeto ter sido atrelado rapidamente com a imagem de famosos. "Um produto [com efeitos] cientificamente comprovados não pode ser associado com a imagem de outras pessoas. Nós médicos somos bastante céticos quanto a isso. Jamais indicaria para algum paciente". O professor de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Leandro Tessler desmente os benefícios. "A interação de um holograma com o corpo é só visual, mas não interfere na energia."
O personal trainer e coordenador de fitness da Academia Corpus, Luciano do Valle, foi contatado para ser revendedor da pulseira. Usou-a por seis meses, mas não sentiu nenhuma interferência no seu desempenho em esportes. Não revendeu e sempre achou o produto "suspeito". "Para mim, não deu nenhum resultado". Segundo ele, alguns alunos e colegas utilizam o objeto e alegam resultados, no entanto, pouco significativos. "Acredito que atue mais na parte psicológica. Por achar que tem algo a mais, a pessoa acaba utilizando melhor a força e os movimentos que tem". A professora de educação física e gerente da Academia Gustavo Borges, Patrícia Koning, concorda. "É um total efeito placebo, mas respeito quem usa. A pessoa pensa de forma positiva e acaba treinando melhor, porém, nada substitui a prática do exercício com disciplina".
Já a economista Ana Carolina Betman Lima, 28 anos, não tira a pulseira "para nada". Usa o produto desde agosto do ano passado, quando a comprou em uma competição de triathlon, modalidade que pratica. "Tinha um estande do produto e fiz o teste [que mede equilíbrio e força] com e sem a pulseira. Na hora, vi o resultado e comprei." Ana conta que melhorou as braçadas da natação e a velocidade da corrida. "Não sei se é psicológico, mas senti diferença, sim. No meio do triathlon, a maioria do pessoal tem a pulseira e gosta"
