O gaúcho sempre gostou de cultuar suas tradições e faz isso o ano todo, mas em setembro essa paixão chega a ficar exacerbada. A Semana Farroupilha, que se encerra sempre no dia 20 de setembro dia da proclamação da República Riograndense durante a Guerra dos Farrapos , é o clímax das comemorações. Todos, pilchados a caráter (os homens de bombacha e as mulheres com os tradicionais vestidos de prenda), cumprem com prazer todos os rituais, como os do chimarrão e do churrasco, e usufruem do principal objetivo desses dois costumes: a possibilidade de "prosear", seja para tratar de assuntos sérios ou simplesmente para jogar conversa fora.
Sem falar nas centenas de acampamentos semelhantes espalhados pelo Rio Grande do Sul e outros estados, alguns até mais rigorosos do ponto de vista do tradicionalismo. O Acampamento Farroupilha de Porto Alegre pode ser considerado uma síntese do movimento. Principalmente porque acontece na capital do estado, teoricamente "menos gaúcha" que cidades como Alegrete, Santa Maria ou Uruguaiana, por exemplo. E nem por isso ela deixa a desejar em termos de comprometimento e participação. Dezenas de famílias passam a morar no acampamento, vivendo mais ou menos como os gaúchos dos tempos da Revolução Farroupilha. Claro que há os gaúchos de fato e aqueles de fim de semana, mas nem por isso menos apegados aos constumes.
O Acampamento Farroupilha de Porto Alegre existe desde 1982, e atualmente é realizado no Parque Maurício Sirotski Sobrinho. O lugar já é usado nos fins de semana por famílias que não dispensam o churrasco, mas nessa época o visitante pode ver simultaneamente vários fogos-de-chão, sistema de churrasco preferido do verdadeiro gaúcho. Uma ovelha inteira, uma "costela de janela" (a peça inteira), uma gaita ponto e um violão... Não precisa mais nada para deixar a gauchada feliz. Claro que uma "purinha" tem seu lugar, ao lado do chimarrão indefectível.
A música, aliás, é outro traço característico do gaúcho. Num acampamento desses é óbvio que só tem lugar a música bem campeira e aquela que é fruto de movimentos estudantis. Os quase 50 festivais de música nativista espalhados pelo Rio Grande do Sul abastecem CDs, pendrives, aparelhos de MP3 e celulares porque gaúcho que se preza adota a tecnologia moderna, ainda que com alguma desconfiança. Luiz Carlos Borges, bom acordeonista e organizador de um dos festivais o de Santa Rosa , marcou presença no Acampamento deste ano.
Quem visita o Acampamento Farroupilha encontra tudo isso simplesmente andando pelas ruas. Mas pode optar pelos restaurantes e lancherias da praça de alimentação. Pode comprar CDs e DVDs e, de repente, depara-se com uma Feira do Livro. Luís Fernando Veríssimo é um dos homenageados deste ano. Não é um autor tradicionalista, mas é gaúcho. O outro homenageado, João Simões Lopes Neto, foi um dos principais nomes da literatura gaúcha.



