
Quem está tentando passar no vestibular enfrenta uma maratona: tentativas em universidades diferentes, provas no mesmo fim de semana e viagens. E nesse corre-corre, a grande expectativa, na maioria dos casos, é pela aprovação em uma universidade pública. Na casa da família Cotlinski, esse estresse é elevado à quarta potência. Os irmãos quadrigêmeos, de 17 anos, fazem neste domingo o vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) três tentando Medicina e uma, Farmácia.
Quando três deles falaram que escolheriam Medicina, o pai, médico, avisou: "Tratem de passar na Federal". A torcida para os quatro é grande na casa. A mãe Ana Francisca explica que, se não der certo na Federal, ainda não sabe o que irá fazer para mantê-los em uma universidade particular. Não foi feita nenhuma poupança pensando no futuro quando os seis nasceram dois morreram prematuramente. "Vamos ter de ver. Quatro não é fácil e vamos ter de correr atrás", diz a mãe. Uma das estratégias é pedir bolsas de estudos.
Para corresponder à expectativa dos pais, Fernando, Ana Cláudia, Ana Luíza e João garantem que se dedicam bastante. Quando a disciplina é Física ou Matemática, os quatro se reúnem para estudar. A preparação é intensa porque eles concluíram o ensino médio no Mato Grosso e sentem falta de algumas disciplinas exigidas na UFPR, como Filosofia.
"Máfia"
O fato de estudarem juntos para as provas e fazerem trabalhos no mesmo grupo lhes rendeu o apelido de a "máfia dos quadrigêmeos". Nunca trocaram de identidade, mas muitos professores confundiam os nomes. A "máfia" agia mais fechando acordos internos. Um deles é que um copia do quadro e o restante passa para o caderno, em casa. "Meu boletim de Física é do meu irmão", brinca Ana Cláudia.
A cumplicidade é tamanha que, quando eles estão fazendo uma prova de vestibular, param numa questão e pensam: "esta meu irmão saberia". No final do exame, os quatro saem discutindo as questões. Os mais estudiosos são os meninos: Fernando e João. Ana Cláudia se define como a mais preguiçosa, que não optou por Medicina porque "tinha de estudar muito e não tinha vontade de ser médica". Já Ana Luíza se considera neutra.
Desde o maternal eles estudam juntos. Se cada um passar em uma universidade diferente, será a primeira vez que vão se separar. Aos 2 anos de idade, os jovens curitibanos foram morar no Mato Grosso, na cidade de Rondonópolis (a 1,6 mil quilômetros de Curitiba), onde o pai tem fazenda. A mãe manteve o apartamento na capital paranaense, prevendo que os filhos voltariam para fazer a faculdade.
Eles já fizeram o vestibular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Universidade Positivo (UP), em que dois irmãos foram aprovados. No dia 23, prestam para a Faculdade Evangélica. Se não passarem no vestibular, continuam em Curitiba para fazer cursinho. "Nem sei como vai ser a separação", confessa a mãe, que irá sentir a casa "vazia".




