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Crianças participam do acampamento de sem-teto na calçada da Theodoro Locker | Giuliano Gmomes/Gazeta do Povo
Crianças participam do acampamento de sem-teto na calçada da Theodoro Locker| Foto: Giuliano Gmomes/Gazeta do Povo

Entenda o caso

Saiba mais sobre o histórico do imbróglio entre prefeitura e sem-teto:

6 de setembro – Início da ocupação do terreno das Ruas João Dembinski e Theodoro Locker, pertencente à Varuna Empreendimentos Imobiliários.

23 de outubro – PM retira à força cerca de 1,5 mil famílias que estavam no terreno.

24 de outubro – Cerca de 400 famílias montam acampamento na calçada, local onde permanecem até hoje em número menor: entre 80 e 130 famílias.

19 de novembro – A 4ª Vara da Fazenda Pública pede que a reintegração de posse seja cancelada até uma audiência, marcada para 24 de novembro.

24 de novembro – Na presença de um desembargador, prefeitura e sem-teto apresentam suas propostas. O imbróglio, porém, persiste.

10 de dezembro – Uma nova sentença suspende a reintegração. A prefeitura pede pronunciamento ao juiz para definir o tipo de albergue que deve ser oferecido à população. Como há recesso judiciário até 6 de janeiro, as dúvidas devem perdurar até o ano que vem.

Uma queda-de-braço com dois meses de duração. De um lado, os sem-teto que ocupam as calçadas das Ruas Theodoro Locker – despejados do terreno com a esquina da Rua João Dembinski, em 23 de outubro –, entre os bairros da Fazendinha e Cidade Industrial, e, do outro, a prefeitura de Curitiba. Nem mesmo as determinações judiciais alteraram o panorama. A prefeitura permanece irredutível e pede aos sem-teto que entrem na fila da Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab) a fim de garantir moradia. Contando com o apoio de ONGs e militantes da luta pela habitação, os moradores defendem que, pelo estado de necessidade social em que se encontram, devem ter preferência nos projetos habitacionais municipais e criticam a oferta da prefeitura de vagas em albergues por um mês.

Enquanto o problema perdura, os manifestantes vivem em condições precárias. Entre 80 e 130 famílias – com cerca de 50 crianças – permanecem no local. As doações recebidas permitem que a cozinha comunitária continue operando, apesar de a maior parte das famílias ter fogão nos barracos. "Temos comida e água. Recebemos uma doação de brinquedos, mas gostaríamos de poder oferecer presentes às crianças no Natal", diz a sem-teto Lindamir de Fátima Lopes, de 47 anos. A principal reclamação dos manifestantes é a falta de segurança: "Qualquer ocorrência do nosso lado da rua, é ignorada pela Polícia e Guarda Municipal", relata Irene da Rosa Barbosa, representante da comissão de moradores.

O advogado Vinicius Gessolo de Oliveira, da Terra de Direitos, argumenta que os sem-teto podem receber unidades habitacionais de forma rápida. Na opinião dele, falta interesse. "A justificativa da prefeitura da existência de uma fila não serve", afirma. "Quem aguarda pacientemente, sofrendo as intempéries da vida, deve questionar essa forma de atendimento habitacional." Para ele, a ocupação deixa claras as falhas da prefeitura nessa área.

Maria das Graças Silva de Souza, representante da União Nacional pela Moradia Popular, afirma que, diante dos fatos, não haverá negociação entre sem-teto com a Cohab ou prefeitura. "Foram várias tentativas. Chegamos, inclusive, a conversar com a Fernanda Richa sem resultados satisfatórios", pondera.

Linha Verde

Na última sexta-feira, na inauguração da Linha Verde pelo prefeito Beto Richa, houve confusão entre os militantes de esquerda e partidários de Beto Richa. Os sem-teto da Fazendinha estavam entre eles. O objetivo era divulgar a situação em que vivem à frente da carreata em que o prefeito seguiria. "Fomos agredidos pelos civis que acompanhavam o ato", diz Irene da Rosa Barbosa. "Enquanto nosso problema persistir, cada evento da prefeitura terá a nossa presença", alerta a sem-teto Cátia de Oliveira, de 40 anos. Maria das Graças, da UNMP, afirma que essa mentalidade é prejudicial aos manifestantes. "Eles estão sendo usados. E a ocupação poderia representar muito para a cidade se não existissem interesses por trás dessas pessoas", pondera.

Natal

Para comemorar o Natal, os sem-teto organizam o fechamento da Rua Theodoro Locker das 13 horas do dia 24 às 22 horas do dia 25. Com o bloqueio da passagem de veículos em alta velocidade, os manifestantes pretendem criar um espaço que permita a brincadeira das crianças. "Vamos comemorar da maneira que for possível, com uma ceia na calçada e a rua para os pequenos", conta Irene. No réveillon, a via também será fechada: das 13 horas do dia 31 às 22 do primeiro dia de 2009. A prefeitura diz não ter sido informada sobre os atos.

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