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Outro lado - Pai nega vício e delegado, tortura

Sobre a afirmação de que Bruno teria sido detido por Janke fumando crack, o pai do rapaz, o jornalista esportivo Vinícius Coelho, diz que o estudante não era viciado. Coelho ressalta que nem cigarro o filho fumava e que seu dinheiro era gasto praticamente para acompanhar as partidas do Coritiba. "Isso era nítido. Ele era um rapaz forte, não tinha como ser drogado", enfatiza o jornalista.

Coelho ressalta ainda que se o filho fosse realmente viciado, provavelmente estaria se desfazendo de seus bens para comprar entorpecentes. "Mas tudo continua aqui no quarto dele, o aparelho de som, o computador, as roupas, exatamente tudo", afirma. O jornalista diz também desconhecer o fato de que o filho fosse pichador. "Mesmo que fosse, isso não justifica a morte", enfatiza.

Por sua vez, o delegado de Almirante Tamandaré, Jairo Estorílio, informa, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), que nem Janke e nem Marconcini foram torturados. Segundo o delegado, o laudo feito pelo Instituto de Criminalística no dia em que Janke foi transferido da delegacia para o COT comprova que não houve abuso policial.

Em relação ao fato de que Janke teria negado a autoria do crime, Estorílio mantém a versão do dia da reconstituição do homicídio. Ou seja, de que Janke não foi à reconstituição porque o próprio advogado da parte teria se negado e apresentado a negativa de autoria. O delegado considera que a postura do advogado de Janke, Antônio Neiva de Macedo Filho, é de tumultuar a investigação. Assim como já havia feito na semana passada, Neiva segue afirmando que não apresentou a negativa de autoria. (MXV)

Ao contrário dos outros dois acusados pela morte do estudante Bruno Strobel Coelho Santos, 19 anos, o vigilante Marlon Balem Janke, 30 anos, diz que o rapaz não chegou morto a Almirante Tamandaré, onde o corpo foi encontrado com dois tiros na cabeça. Em entrevista exclusiva, acompanhada por seu advogado Antônio Neiva de Macedo Filho, no Centro de Observação e Triagem (COT), o segurança deu detalhes de como foi a última noite de Bruno e de como teria sido a ação ao lado dos colegas de trabalho Eliandro Luiz Marconcini e Douglas Rodrigo Sampaio Rodrigues.

Janke também explica como os vigias noturnos da Centronic agiam – sem a autorização da empresa – ao deter pichadores. "Por que tirar a polícia da rua para prender pichador se a gente mesmo podia dar o corretivo?", questiona.

O que aconteceu na madrugada de 3 de outubro?O que posso dizer é que não sou totalmente culpado e não sou totalmente inocente.

Mas seus companheiros afirmam que o Bruno já teria chegado a Almirante Tamandaré morto...Não é verdade. É mais fácil você mostrar o erro dos outros do que a inocência da própria pessoa. Estão querendo derrubar minha imagem botando a culpa só em mim, distorcer tudo da minha vida ao invés de provar a inocência deles.

O Bruno estava pichando o muro?Ele estava pichando e usando crack e não foi a primeira vez que foi pego. Eu já havia abordado ele outra vez. Uns conhecidos meus, de outra empresa, também já tinham abordado ele. Na primeira vez que o detive ele estava visivelmente alterado e na última fumando crack.

E você fez o quê?Fizemos a abordagem padrão, de tentar segurar. Ele reagiu e entramos em luta. Chamei o apoio, o Ricardo (Cardoso Ryseal, supervisor da noite da Centronic). Na empresa nós demos uma bronca nele. Fui jogar tinta nele e ele tentou me agredir. Foi quando dei um tapa na cara dele e o pintei. Aí ele começou a fazer várias ameaças.

De que tipo?Que o pai dele era importante e que nós não íamos fazer mais nada a partir daquele momento. Daí ele se identificou como filho do Vinícius Coelho. Eu não sabia quem era, não acompanho futebol. Meu supervisor sabia e disse "agora danou-se..."

E o que o supervisor orientou?Que era para a gente tirar ele de lá e resolver a bronca.

Quem saiu com o Bruno da sede da empresa?Eu e o Eliandro, que perguntou "para onde vamos levar esse piá para ver se ele se acalma?" Aí tivemos a idéia de reportar o Douglas. Passamos um rádio e o Douglas disse "eu conheço um lugar aqui que ele vai ficar com medo". Marcamos um encontro com o Douglas na divisa Tamandaré-Curitiba. Ele chegou com um amigo, segurança de outra empresa. O Douglas disse que ia deixar a moto em um posto de gasolina e iria com a gente. O outro rapaz foi embora. Deixamos a moto e fomos para o matagal.

Os outros dois dizem que o Bruno já estava morto no porta-malas e que não sabiam. O Bruno chegou morto ao matagal?Ele não foi morto antes de chegar lá. Até então, ninguém atentou contra a vida dele, ninguém estava pensando em matá-lo. Ele só estava sujo de tinta e tinha um sangramento na boca de um tapa que eu desferi.

O Eliandro e o Douglas dizem que você tirou sozinho o corpo do porta-malas. Não tirei porque ele não estava morto.

Como era a ação com pichadores?Se você pega um pichador e chama a PM o que acontece? A PM diz "por que você mesmo não resolveu isso? Vou te mostrar como faz." E aí vai lá e mostra, que é da mesma forma que a gente, jogando tinta no pichador. É complicado: se você leva para um distrito, vai levar quatro horas, vai tirar uma viatura da rua que está resolvendo alguma bronca. Por isso a gente evitava levar para a polícia.

Era prática da empresa aplicar castigos a pichadores?Para esclarecer, porque virou uma novela isso, de que a Centronic mata. A gente tinha alguns procedimentos, mas não era de tortura e nem de crime organizado. Como falei, por que tirar uma viatura da polícia da rua para prender pichador se a gente mesmo podia dar o corretivo.

Esse corretivo era prática da empresa?Não. A gente não levava à empresa. Normalmente a gente detinha no local e fazia ali mesmo: jogava tinta... Tanto é que tem a gravação minha de dois que pegamos e sujamos. Mas não era recomendação da empresa.

Seus superiores sabiam?Não. Um supervisor, o Ricardo, sabia. O que a gente fazia de noite ficava entre nós.

A arma era da empresa ou sua?Prefiro não falar.

O delegado Jairo Estorílio disse que você não participou da reconstituição porque teria negado o crime. Você negou?Está lá a minha assinatura, eu assumindo o tiro no BO. Não nego minha culpa, mas também não sou totalmente culpado. Falaram que a gente torturou o rapaz, mas tortura foi o que fizeram com a gente na delegacia. Me asfixiaram com uma luva de médico, me perguntando onde estava a arma. Passamos a noite inteira (eu e Eliandro) levando tapas e pontapés.

Qual era a relação de vocês três?O Douglas conheço faz 13 anos. A gente era vizinho. Foi colocado que o Douglas tinha medo de mim, que eu ameaçava ele. Mas então por que ele me colocou na empresa? Nós saíamos juntos todos os fins de semana. O Eliandro eu conheço faz uns quatro anos. Fora do serviço a gente também se dava bem. Sempre considerei os dois.

Você assistiu sete vezes ao filme Tropa de Elite?Vi mais de uma vez, assim como assisti a outros filmes várias vezes.

No seu perfil no Orkut, você freqüenta comunidades de grupos de elite da PM. Você tem interesse por isso?Não queria passar a vida inteira em cima de uma moto, pulando muro atrás de pichador, quem sabe me acidentar. O que procuro nesses grupos são cursos de aperfeiçoamento.

Você chegou a prestar concurso para PM?Não. Colocaram que eu era uma pessoa militarizada. Não quero arrebentar a imagem dele como ele fez comigo, mas o Douglas tentou ir para a Aeronáutica e não passou. Ele tinha um tio fuzileiro naval, fez concurso e não passou. Tentou concurso para a PM e não entrou. De nós, ele era o único que tinha um emblema da Rone na boina. Ele sempre teve vontade de ser militar. Até quem me incentivou a fazer curso de segurança foi ele. Então acho que não condiz dizer que tenho perfil militarizado. Servi o Exército, em um quartel de manutenção, que parecia mais uma indústria. Nunca passou pela minha cabeça ser PM.

Como você entrou na Centronic?Na época era ainda Centurion, há uns seis anos. Antes vivia de bico. Estava morando no Rio de Janeiro e quando voltei o Douglas me convidou para fazer curso de vigilante.

Lembra do último exame de psicotécnico?Não. É a quarta vez que retorno à Centronic. Em janeiro ia fazer um ano que tinha voltado. Eu me estressava com o serviço e saía. Quando você sobe na moto a adrenalina sobe, você não sabe o que vai acontecer. Só diminui quando bota a cabeça no travesseiro para dormir.

Algum recado à família do Bruno?(Começa a chorar) Gostaria de pedir perdão, implorar ao senhor Vinícius Coelho. Que a dor que a família dele está sentindo eu posso sentir de certa forma, porque há alguns meses também perdi um filho, que estava em gestação.

E à sua família?(Chorando) Peço perdão pelo sofrimento que estou causando. Se imaginasse que aquilo iria acontecer eu nem tinha saído de casa aquele dia...

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