Brasília O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), e os aliados deles foram derrotados ontem no Conselho de Ética do Senado, pela terceira vez, na tentativa de enterrar logo o processo aberto para investigar a suspeita de quebra de decoro parlamentar dele por, supostamente, ter despesas pessoais pagas com dinheiro de um suposto lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo. Antes, Renan havia tentado evitar a abertura do processo, feita a pedido pelo PSol. Na quarta-feira, apesar da pressão dos aliados, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), teve de abrir "vista coletiva" dos documentos a todos os senadores e adiar a reunião para ontem de manhã.
Ontem, temendo ser alvo de uma nova investigação de que teria apresentado notas frias para justificar os rendimentos agropecuários , o presidente do Congresso manobrou para evitar que a denúncia também venha a ser apurada no Conselho de Ética. Renan propôs, e foi acatada, a sugestão de submeter a uma perícia os recibos sobre a venda do gado de suas fazendas, antes de votar na terça-feira o parecer em que o relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA) manda arquivar o processo.
Ainda por sugestão de Renan, transmitidas por telefone ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ficou acertado que o Conselho de Ética ouvirá dois depoimentos na tarde de segunda-feira: o de Gontijo e o do advogado da jornalista Mônica Veloso, Pedro Calmon. Calmon decidirá hoje se comparecerá ou não, após ouvir a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de conhecer os motivos que levaram o conselho a requerer a presença.
De acordo com uma reportagem da revista Veja, a jornalista, com quem Renan tem uma filha de 3 anos, receberia das mãos do suposto lobista da Mendes Júnior, na sede da empreiteira, dinheiro para pagar o aluguel, de R$ 4 mil, e os R$ 8 mil da pensão alimentícia. Como prova da suposta inocência, o presidente do Senado mandou para o conselho e a Corregedoria da Casa recibos que, segundo ele, comprovariam o recebimento de recursos suficientes para bancar essas despesas. A origem do dinheiro, que seria a venda de gado, foi posta em suspeita, após o Jornal Nacional, da Rede Globo, localizar "compradores" que negaram a transação.
A estratégia encabeçada por Renan surpreendeu os próprios aliados. Eles chegaram à Casa devidamente instruídos para aprovar o parecer de Cafeteira. Para o senador Gilvan Borges (PMDB-AP), seria este o melhor procedimento "para evitar que a situação de Renan se complique". O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) alegou que adiar a votação seria "transferir o sangramento do presidente para a terça-feira". "Ele tem todas as notas para provar sua inocência", insistiu.
Principal intermediário de Renan no conselho, Jucá atribuiu a mudanças de planos à "conjuntura" provocada sobre a origem do dinheiro depositado nas contas do peemedebista. "O quadro mudou e o presidente não quer deixar dúvidas sobre a sua situação", justificou. Ao fim da reunião do conselho, o líder e outros parlamentares da base aliada do governo foram se encontrar com Renan, na residência oficial do Senado.
Na abertura da sessão o líder do governo, senador Romero Jucá, afirmou que o presidente do Senado repassou ao conselho cheques nominais, notas fiscais, declarações de vacinação contra febre aftosa e Guias de Trânsito Animal emitidas pelo Ministério da Agricultura para comprovar que rendimentos de R$ 1,9 milhão declarados nos últimos quatro anos foram provenientes da venda de gado.
"Estou de posse de documentos que efetivamente comprovam a comercialização, a posse e o recebimento pelo presidente Renan dos valores declarados no Imposto de Renda", disse Jucá. "E pasmem os senhores, todas as transações foram feitas com cheque nominal."



