
"Na hora em que vi o pessoal do resgate, senti que havia nascido de novo." Assim a montanhista Denise Ciunek, de 38 anos, descreveu, já no hospital, o momento em que foi encontrada por equipes do Corpo de Bombeiros e montanhistas, depois de passar 17 dias na mata ao se perder quando percorria o Caminho de Itupava, na Serra do Mar. Bem humorada e tranquila, ela contou a jornalistas e à equipe médica do Hospital Nossa Senhora do Rocio, em Campo Largo, que após todo esse tempo pensou em desistir justamente ontem, pouco antes do resgate.
"Até então o tempo estava bom, com sol, e isso me dava esperança. Mas hoje (ontem) olhei para o céu e vi que havia muitas nuvens, e que poderia chover. Nesse momento achei que não daria. Tinha medo de ter hipotermia e não resistir." Mas ontem mesmo, por volta das 15 horas, uma equipe formada pelo 2.° Subgrupamento de Bombeiro Independente (SGBI), de montanhistas e funcionários do Instituto Ambiental do Paraná encontraram a montanhista num local próximo à estação ferroviária Véu da Noiva, em Morretes.
Dali, Denise foi transportada até a estação ferroviária Engenheiro Lange, e então até Porto de Cima, de onde seguiu de helicóptero para o hospital de Campo Largo. "O local onde ela se encontrava era de difícil acesso. A visibilidade é bem reduzida", explica o comandante do SGBI, major Edemilson Barros. O resgate envolveu mais de 60 homens do SGBI, do Grupo de Operações de Socorro Tático (Gost), e do Corpo de Socorro em Montanhas (Cosmo), além de voluntários e cães farejadores.
De acordo com o comandante do Gost, major Samuel Prestes, as buscas pela montanhista iriam até no mínimo sexta-feira. "Nesses casos, fazemos varredura no local durante 15 dias. Após esse tempo, interrompemos as buscas, e retomamos quando há alguma evidência. Esse é o procedimento. No caso dela, já havíamos feito até uma planilha com a escala de trabalho das equipes."
Experiência
No hospital, Denise deu detalhes de como se perdeu. No dia 19 de agosto, ainda no início da trilha, foi abordada por um homem armado que a obrigou a caminhar para dentro da mata. Ciente de que seria abusada sexualmente, aproveitou-se de um descuido do agressor e o golpeou. "Quando ele largou a arma para se despir, eu contra-ataquei e fugi", relata. O tempo entre a abordagem do homem e a fuga durou meia hora. Na fuga, ela se afastou da trilha e se perdeu.
Para o médico Filipe Kwiatkowski, que atendeu Denise, a experiência foi essencial para mantê-la viva. Ao perceber-se perdida, ela procurou se manter próxima de um curso dágua. Durante os sete primeiros dias, alimentou-se de barras de cereal levadas na mochila. Quando o suprimento acabou, sobreviveu apenas de água. "Ela fez o correto. Ingerir líquido é essencial", afirma o médico. Ainda ontem, Denise foi encaminhada para a UTI com quadro de hipoglicemia e desnutrição, sem previsão de alta. "Ela está bem, ficará na UTI por precaução. Ela não pegou nenhuma infecção, não sofreu fraturas, apenas escoriações. Precisa se alimentar e descansar."
Após o ocorrido, Denise afirma que não voltará a fazer o Caminho de Itupava. "Não vou parar com o montanhismo de jeito nenhum, mas esse trajeto eu não faço mais. É muito perigoso. Bandidos estão invadindo a trilha. O local é abandonado", diz. O plano dela para o feriado é "dormir muito". "Já liguei para o meu pai e disse que o amo muito. Agora vou descansar."



