Pensar em uma maneira de produzir uma comida boa sem ter que permanecer refém do sistema de grandes indústrias e supermercados. Foi dessa premissa que as paranaenses Camila Lovato e Amanda Kosinski criaram a casa de comer Central do Abacaxi, uma espécie de restaurante que funciona na região central de Curitiba em horário diferenciado. O espaço fica aberto do meio-dia às 18 horas para que todos os frequentadores tenham a oportunidade de ter um almoço digno, independentemente do horário.
“Comer comida depois das duas horas [da tarde] em Curitiba é muito difícil. E quem não gosta de sentar e comer um prato preparado na hora, como se fosse de mãe?”, argumenta Camila, que aposta na intimidade dos clientes com a cozinha da Central do Abacaxi como o grande diferencial do negócio.
O prato que você leva à mesa também pode ser uma escolha política. Entenda
Leia a matéria completaNa Central, 90% dos alimentos preparados são de origem orgânica. O espaço serve carne, vegetais, molhos, saladas e massas frescas como se fossem os alimentos preparados em casa, sem os aditivos químicos que ajudam a alavancar a produção em grandes restaurantes. Por isso, o cardápio não é de múltipla escolha. “É o que tem para o dia”, afirma Camila.
A dupla, que começou vendendo sanduíches em bicicleta, não abre mão de negociar produtos diretamente com os produtores, com quem já definiu novas moedas de troca. Enquanto alguns recebem em dinheiro, outros ganham cotas de almoço.
“Você tem que pensar que sistema você alimenta quando você se alimenta. Essa é a grande questão e porque decidimos aproximar quem cozinha de quem oferece o insumo”, reflete Amanda. “E o legal é que, de alguma forma, a gente acaba fazendo essa ponte. Às vezes a pessoa acha que é difícil comer orgânico, porque é mais caro, mas o produtor está aqui, comendo na mesma mesa, e abre essa possibilidade. Quando você começa a consumir orgânico e compra das pessoas certas, percebe que não é tão caro e que o benefício vale muito a pena”.
Se a compra de um produto melhor pode pesar na conta de uma família no fim do mês, por outro lado, questionadores da alimentação como ato político também apontam a produção limitada de alimentos mais seletivos como uma pedra no sapato de quem dissemina a prática.
Contudo, o argumento de uma demanda que não pode ser suprida cai por terra na opinião da nutricionista Elaine de Azevedo, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Para ela, não faz sentido manter tai ideia uma vez que existe produção suficiente no mundo para alimentar quem precisa. “Só que não podemos esquecer de que está tudo muito concentrado”, finaliza.
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