Bares e restaurantes de São Paulo já começaram a se adaptar à proibição de fumar em locais fechados, que começa a valer em 6 de agosto. Em alguns estabelecimentos, o fumo já está proibido e há fiscalização. Os lugares reservados para fumantes foram extintos antes mesmo de a lei entrar em vigor.
A lei estadual antifumo, proposta e sancionada pelo governador José Serra (PSDB), proíbe também a existência de fumódromos. Fiscais do Procon e da Vigilância Sanitária vão multar estabelecimentos que descumprirem a lei. Guimbas de cigarro achadas em locais fechados podem servir como prova.
O gerente comercial Eduardo Prandi, de 30 anos, se espantou, na noite de quarta-feira (20), quando não conseguiu sentar dentro do restaurante Spot, nos Jardins, mesmo que em área para fumantes. "Disseram que não tem mais essa área. Fiquei surpreso". O jeito foi tomar o vinho do lado de fora, ao lado da amiga Kristin Figueiredo, de 40 anos, que também curtia o frio com uma taça da bebida.
"Para quem não fuma [a lei] é uma excelente ideia. Vai educar mais as pessoas que fumam", disse o rapaz. A amiga dele concordou e nem se perturbou muito com o fato de ficar ao relento, na praça que fica bem em frente ao Spot. "Incomoda um pouco, mas eu voltaria para cá sem problemas", contou, rindo. O restaurante aproveitou o espaço para colocar mesas e cadeiras, mantendo assim a clientela.
Com antecedência
A proibição do fumo é amplamente apoiada por um dos donos do restaurante Ritz, que já adota a restrição desde novembro do ano passado. Segundo o uruguaio Miguel Olivetti, de 62 anos, um dos sócios do Ritz, o tabaco foi banido dentro do estabelecimento para atender a um pedido antigo dos clientes não-fumantes. Ele aproveitou a discussão da lei para isso.
Segundo o empresário, a proibição até melhorou o movimento da casa. "Foi bem aceito inclusive por aqueles que fumam", declarou. Garçons, cartazes e placas lembram os clientes do restaurante que por lá já não se pode fumar. Antes, uma "divisão imaginária" no salão separava os fumantes dos não-fumantes.
Restaurantes e bares com áreas abertas ao ar livre têm um espaço a salvo da fiscalização. É o caso da filial dos Jardins da pizzaria Veridiana, que também já proíbe o fumo no interior da casa. Mas o "bulevar", como é chamado, está com os dias contados.
Sylvio Gragnano Júnior, 65, um dos sócios da pizzaria, contou que, por ter teto e paredes laterais (a área fica de frente para a calçada), o local não se enquadra como fumódromo e os clientes não poderão acender mais seus cigarros por ali quando a lei entrar em vigor, em agosto.
Gragnano Júnior reclamou da proibição e considerou a lei "um exagero". "Cerceia o público do direito de liberdade. Antes [lá dentro], convivíamos em perfeita harmonia. Agora, se acendemos um cigarro, a clientela já reclama", afirmou ele, que fumava do lado de fora, sentado à mesa, na quarta-feira.
Ter um refúgio para fumantes é um atrativo na opinião de José Guilherme Meirelles, um dos donos do Spot. "O cara sai e vai fumar lá fora. Vira um programa", afirmou. O restaurante já adota a proibição desde que a lei foi publicada no "Diário Oficial do Estado de São Paulo", em 8 de maio.
Incomodado com a proibição
O fumante Roberto Conde, de 51 anos, também era um dos clientes do Spot que teve de se contentar em fumar no espaço externo. Ele se disse incomodado com a proibição, mas ainda não se preocupou em como conciliar o vício com a ida a bares e restaurantes. "Eu não sei como vai ser minha reação [com a proibição generalizada]. Mas o consumo de bar vai cair muito", declarou, resignado, enquanto fumava e bebia em uma das mesas externas do Spot.
Com ou sem brecha para fumar nos restaurantes, a fumante Cristiane Yumi, de 28 anos, já se contenta em seguir a proibição e frequentar os mesmos lugares habituais. "Vou só obedecer", disse.
Apesar da tendência de restaurantes ilustres se anteciparem à vigência da lei antifumo no estado, o diretor-jurídico da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) em São Paulo, Percival Maricato, ainda se diz confiante em conseguir anular a medida na Justiça. "Os bares já se acostumaram a ser reprimidos, então muitos já se anteciparam com medo. Nós vamos continuar lutando", afirmou.



