
Povoado durante mais de um século por leitos, equipes médicas e pacientes, o prédio histórico da Santa Casa de Curitiba está abrigando nos últimos cinco anos ocupantes um tanto inusitados para um hospital. Progressivamente, instrumentos de saúde deram lugar a serras, martelos e espátulas da equipe responsável pelo projeto de restauro do imóvel. Diferentemente de uma reforma comum, o trabalho é minucioso. Como quem garimpa um terreno em busca de tesouros, os restauradores escavam paredes e pisos, com atenção e cuidado, na tentativa de descobrir o que há de original por baixo das "camadas" que a edificação ganhou ao longo de 130 anos.
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Inaugurado pelo imperador dom Pedro II em 22 de maio de 1880, o prédio foi, por muitos anos, o único hospital de Curitiba. Com o crescimento da população, anexos foram construídos e seguidas reformas descaracterizaram a edificação original. "Como o prédio não atende mais às normas da medicina, os espaços médicos serão transferidos para áreas mais novas. Nele, ficarão atividades administrativas e, preferencialmente, acadêmicas e culturais, que impactam menos", conta o arquiteto Cláudio Forte Maiolino, responsável pelo projeto e obras de conservação e restauro da Santa Casa.
Unidade de interesse
O imóvel de 8,5 mil metros quadrados é protegido pelo município, como unidade de interesse de preservação. De estilo eclético, como explica Maiolino, a construção não segue um princípio único. "Era uma época em que se construía sem muito padrão. Os engenheiros projetavam com o que a indústria tinha para oferecer no momento."
A estrutura, garante o arquiteto, é sólida e bem conservada. "As paredes são em tijolos maciços. O mais danoso foram as intervenções no prédio. Colocaram vigas de concreto em cima de pilar de madeira. Estamos desmanchando os improvisos e recuperando a planta original", diz.
Além da edificação secular, o restauro engloba duas ampliações históricas, que formam um "U". O madeiramento da cobertura e o telhado estão 100% restaurados e 30% da área interna já foi liberada. A previsão de Maiolino é que as obras se encerrem dentro de um ano.
Atualmente, uma equipe de dez pessoas entre carpinteiros, pedreiros e estucadores (profissional que aplica argamassa especial feita à base de gesso) trabalha na capela, que teve a pintura original revelada, e no sótão, que está recebendo revestimento em madeira semelhante ao original. A dificuldade maior, no momento, é retirar algumas enfermarias que ainda restam no prédio.
Objetos achados vão para museu de medicina
Durante o trabalho, a equipe de restauro encontrou uma grande quantidade de frascos de medicamentos antigos, esquecidos no porão da construção. "Tinha remédios com rótulo do século 19", conta Maiolino. Os objetos, segundo o professor, estão sob os cuidados do pessoal da Escola de História da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e devem integrar um museu de medicina, enfermagem e farmácia. "O projeto prevê um centro cultural que mostre como era uma sala cirúrgica do século 19, por exemplo." Para isso, a instituição pede a doação de objetos antigos que fizeram parte do acervo do hospital. "Às vezes, uma cama antiga era colocada no lixo e alguém pegava. Se as pessoas ainda tiverem um objeto assim, nos procurem", pede o arquiteto.











