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Águas do amanhã

Reúso do esgoto pode salvar os mananciais

Pesquisador propõe técnica avançada para recuperar efluentes como medida para combater a escassez hídrica na região de Curitiba

Para Pedro Franco, o reúso indireto potável pode ajudar a evitar o colapso no abastecimento de água | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Para Pedro Franco, o reúso indireto potável pode ajudar a evitar o colapso no abastecimento de água (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

Mananciais degradados pela crescente ocupação urbana, rios cada vez mais poluídos e baixa disponibilidade hídrica para o abastecimento público são elementos que compõem o retrato atual da bacia do Alto Iguaçu, na região metropolitana de Curi­tiba. Nesse ritmo, dizem os especialistas, vai faltar água nos próximos anos e ainda teremos de pagar mais caro por ela.

Foi pensando nesse futuro árido e não muito distante, que o engenheiro agrônomo Pedro Luís Prado Franco, membro da Diretoria de Meio Ambiente da Sanepar, descobriu uma técnica chamada reúso indireto potável, cuja proposta é recuperar o esgoto das cidades para reabastecer os mananciais de água. A ideia, inusitada, foi defendida em sua dissertação no mestrado Meio Ambiente Urbano e Indus­­trial, uma parceria entre a Universi­­dade Federal do Paraná, a Uni­versidade de Stuttgart, da Ale­manha, e o Senai-PR.

Limiar

"Curitiba e região dispõem de 608 m3 de água por habitante ao ano, quase no limiar da escassez hídrica (segundo critérios da ONU, uma disponibilidade de água inferior a 500 m3 é considerada estado de escassez). Apesar de chover bastante, temos pouca água para toda a população. Isso requer novos instrumentos para o seu uso e um deles é justamente o reúso, ou seja, transformar o efluente tratado em recurso hídrico com o qual você vai conseguir gastar menos água e, às vezes, até incrementar as vazões em áreas que precisam", explica Franco.

O método proposto pelo pesquisador consiste em submeter o esgoto já tratado convencionalmente a outro sistema de tratamento, mais avançado (veja box). A água recuperada – de boa qualidade – é então lançada de volta nas áreas de nascentes dos rios, onde normalmente se faz a captação para abastecimento público. "Qual­­­quer tipo de reúso requer tratamento avançado. Se você tratar mais um pouquinho, pode misturar essa água em um rio, um manancial. Ela vai se diluir, se autodepurar, e você ainda terá um controle grande dos parâmetros de qualidade", ensina o pesquisador. Neste caso, seriam os mesmos parâmetros para a água potável.

Franco calcula que hoje no mundo haja apenas dez sistemas de uso indireto potável e outros 30 em andamento. "A tendência é aumentar cada vez mais, porque está saindo mais caro construir barragens do que fazer um tratamento avançado com reúso. E essas tecnologias estão ficando mais baratas, ao contrário de uma barragem, que sempre vai ser cara", compara. Segundo estimativa dele, em teoria, se o reúso fosse implantado integralmente na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Atuba Sul, em Curitiba, a maior ETE do estado, seria possível eliminar praticamente duas barragens como Piraquara I e II, que juntas armazenam quase 45 milhões de m3 de água e servem para manter a vazão mesmo durante a estiagem.

Apesar de não ter calculado os investimentos necessários para implantar o reúso na capital paranaense, o pesquisador diz que a diferença de custo entre as várias modalidades de reúso (como o industrial, por exemplo) é pequena. Valeria a pena tentar. Até porque, mesmo com a ampliação das redes de coleta e tratamento de esgoto, no atual sistema não se consegue recarregar os mananciais a ponto de atender a demanda. "Para abastecer essa população, hoje a Sanepar precisa de quatro reservatórios, que causam impacto socioambiental. E a tendência é construirmos novos. Além disso, vamos ter que buscar a água cada vez mais longe e a um custo muito elevado", conclui.

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