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Tragédia aérea

Reversor pode ter causado o acidente

Aeronave tinha apresentado problemas com o reverso em um vôo quatro dias antes do desatre em Congonhas

America Ferrera interpreta "Uggly Betty" | Divulgação
America Ferrera interpreta "Uggly Betty" (Foto: Divulgação)

São Paulo – O reverso direito do Airbus A320 da TAM não abriu no pouso trágico em Congonhas porque estava travado. A informação foi admitida pela empresa, que alegou que esse não era um item obrigatório para a aterrisagem. O sistema eletrônico do avião com 186 pessoas a bordo, que bateu contra uma prédio da própria empresa na terça-feira, teria apresentado um defeito no reversor da turbina direita no último dia 13.

Ao mencionar o problema do reverso, na edição de ontem, o Jornal Nacional, da Rede Globo, informou que o presidente da TAM, Marco Antônio Bolonha, disse que os fabricantes recomendaram à empresa fazer uma revisão do dispositivo defeituoso em até dez dias após o problema. Disseram ainda que, durante esse período, a aeronave poderia continuar voando.

O Jornal Nacional informou ainda que o mesmo avião teve problemas para aterrissar em Congonhas um dia antes da tragédia. A aeronave, que fazia o vôo 3215, entre Confins (MG) e Congonhas, teria parado no limite da pista. O piloto, ao comunicar o fato, teria dito que a pista estava escorregadia, comentário registrado pelos órgãos oficiais. Mas o livro de bordo, segundo a TAM, não tem registro de pane séria na última segunda-feira.

Em nota divulgada ontem à noite, a TAM "reitera que o reversor direito do Airbus A320 que realizou o vôo JJ 3051 foi desativado em condições previstas pelos manuais de manutenção da fabricante Airbus e aprovado pela Anac".

Fontes do setor aeronáutico ouvidas pela reportagem, afirmam que o uso do reverso (um equipamento que inverte a pressão da turbina) ajudaria a fixar o pneu do avião no solo, especialmente numa pista curta, sem ranhuras e em dia de chuva.

Um dos especialistas disse acreditar que o reverso direito já saiu travado ("pinado", no jargão aeronáutico) de Porto Alegre, provavelmente por decisão da manutenção. O piloto de uma outra grande companhia aérea disse que, embora não seja um item obrigatório, a sua empresa veta o pouso das aeronaves com reversos travados no Aeroporto de Congonhas, por causa da extensão da pista. Outro especialista, com 43 anos de experiência em vôos e mais de mil pousos em Congonhas, disse que, sabendo da condição do reverso direito, o piloto tomou suas decisões baseado nesta situação.

Na entrevista da TAM quarta-feira, o vice-presidente técnico da companhia, Ruy Amparo, quando perguntado se o problema poderia ser semelhante ao ocorrido com o Fokker 100 da empresa que caiu em 1996, também em Congonhas, matando 99 pessoas, respondeu:

"O reverso direito estava travado em condições previstas dentro das normas desse tipo de avião e não coloca qualquer obstáculo ao pouso previsto em Congonhas."

A guinada do avião à esquerda, antes de se chocar com o prédio da TAM Express, indica, segundo os especialistas, que o piloto acionou o único reverso que funcionava, o esquerdo, na tentativa de parar a aeronave. Segundo um deles, o reverso é um dos três tipos de freio do avião. O primeiro, formado pelos flaps e spoilers, é o aerodinâmico, capaz de reduzir a potência quando a aeronave ainda está no ar. O segundo é o freio das rodas. E o terceiro é o reverso, anteparo que, ao ser acionado, e usado para desacelerar o avião durante os pousos ao inverter o fluxo da turbina.

"Realmente, o reverso não é um requisito técnico. Só que, para uma pista molhada e nas condições em que se encontrava, o piloto sabia que contava com um só reverso", garante uma das fontes.

O avião acidentado, prefixo MBK, foi fabricado em fevereiro de 1998 e incorporado à TAM em 22 de dezembro do ano passado. O representante da Airbus no Brasil, Mauro Sampaio, disse que, antes de operar no país, o avião pertencia à Taca, companhia aérea da América Central com sede na Nicarágua. Sampaio garante que a Taca tem um dos maiores centros de manutenção do continente, na Costa Rica, com clientes norte-americanos.

Sampaio disse que a aeronave havia consumido apenas 15% da sua vida útil, com 13 mil pousos dos 90 mil possíveis. Ele disse que a Airbus já produziu 3.200 aeronaves dessa família e tem encomendas para outras 2 mil, incluindo clientes brasileiros. Desde a entrega do primeiro avião, afirmou, foram registrados sete acidentes com mortes.

A TAM operava com 59 aviões Airbus 320 e outros 15 Airbus 319, com pequenas diferenças. Mauro Sampaio garante que todos obedecem a um rigoroso programa de revisões periódicas. O representante jantou com quatro técnicos da empresa e outros três funcionários do órgão francês responsável pela investigação de acidentes aéreos, a BAE, que vieram ao Brasil para fazer um trabalho independente.

Para especialistas ouvidos pela reportagem sobre a falta do reverso, o piloto pode ter ficado inseguro por não contar com esse item no pouso. Um deles sustenta que, no último trecho da pista, após uma suposta tentativa de arremeter, o piloto usou toda a potência do reverso esquerdo, único em funcionamento, até estourar a turbina, razão da primeira explosão, menos potente do que a segunda, a do impacto.

"Se ele aplicou um só reverso, provavelmente prejudicou a capacidade de controle direcional da aeronave. Isso é até possível quando a pista está seca, mas, quando o solo está molhado, o acionamento de um só reverso provoca potência assimétrica, ou seja, o avião é lançado para fora da pista", disse um dos especialistas.

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