
Eles arrecadam dinheiro para realizar melhorias que deveriam ser feitas pelo poder público. Cansadas de esperar, pessoas comuns unem esforços para cobrir áreas carentes de recursos, ajudando a asfaltar ruas, oferecer cursos e a construir casas para quem precisa e não pode pagar.
Em Londrina, moradores se reuniram para recuperar o asfalto em alguns bairros da cidade. Eles se cotizam para pagar pelo serviço. Em acordos firmados com a administração pública, empresários e moradores bancam parte dos custos para que a recomposição seja feita.
No Jardim Mediterrâneo, zona sul da cidade, duas das oito ruas foram recompostas através da cooperação entre a sociedade civil e poder público. "Nós insistimos por anos, desde gestões anteriores, pela viabilização das ruas, mas nada era feito. Quando foi instalada a rede de esgoto no local, a situação ficou insustentável", explica o presidente da associação do bairro, Dimas Soares Júnior.
Segundo ele, 90% dos moradores concordaram com a alternativa para se livrar dos transtornos causados pelas ruas esburacadas. Cada família contribuiu, em média, com R$ 350. "Com os cerca de R$ 37 mil, custeamos 30% da massa asfáltica", conta Soares. Um novo acordo está sendo discutido com a prefeitura para a recuperação do restante das ruas do bairro.
O Parque das Indústrias Leves, na zona leste, passou 30 anos vendo seus 50 mil metros quadrados de asfalto sendo apenas remendados, sem qualquer reforma significativa. Até que um grupo de 35 empresas localizadas na região decidiu bancar R$ 130 mil dos R$ 800 mil necessários para a recomposição do asfalto. Outros bairros da cidade também aderiram à parceria com a prefeitura para dar fim aos buracos nas ruas.
Moradia
Inspirados no legado de Herbert de Souza, o Betinho, funcionários da Sercomtel passaram a doar seus vales-refeições para atender demandas da sociedade. "Em 18 anos, 64 casas foram construídas para famílias carentes. São mais de 500 funcionários que doam um ou mais tickets por mês, o que dá mais ou menos R$ 10 mil", conta a presidente do Comitê de Solidariedade dos Funcionários da Sercomtel, Sônia Tanaka Hirasaki.
Além das casas, o comitê já reformou e ampliou creches e escolas, e construiu, junto com a Sercomtel, a sede da Escola de Educação Especial Flávia Cristina e a casa de apoio do Instituto do Câncer, que oferece hospedagem para pacientes que vêm de outras cidades para serem atendidas no local.
O comitê também aplica sua arrecadação na oferta de cursos profissionalizantes e na compra de medicamentos, cadeiras de rodas, agasalhos, cobertores e brinquedos para crianças atendidas pelas creches municipais. "Nós também doamos todos os meses 700 quilos de leite em pó e 400 quilos de farelo de trigo para a Pastoral da Criança", acrescenta Sônia.
Dízimo
Trabalho parecido é feito pela Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, que dedica parte do dízimo para a construção de casas em dois bairros carentes de Londrina. Desde 2006, 48 casas já foram construídas. Também está sendo erguido um centro social que vai oferecer reforço escolar para as crianças e qualificação profissional para os adultos.
O padre Romão Antônio Martins, que coordena o projeto, lamenta a ineficiência do poder público em atender as necessidades da população. "A Constituição diz que é obrigação do Estado dar uma vida digna a todo cidadão", lembra. "O poder público recebe impostos. Nós, que recebemos o dízimo, uma doação voluntária, já conseguimos fazer algo bastante significativo para as pessoas", compara o padre.




